segunda-feira, 29 de junho de 2009

A maldição da fama




Há alguns dias tenho sentido o coração apertado e logo me dou conta que tem a ver com a partida de Michael Jackson, ele era o máximo, carregou a fama desde a mais tenra idade, um verdadeiro fenômeno. Famosos são aqueles que por alguma razão muito peculiar se destacam entre os demais. Foi o caso. Sua singularidade foi muito além do comum. Admirá-lo ou não, não faz a mais minima diferença, o mundo o admira, o celebra. Esse dado não se discute.

Há os famosos pela maldade, em geral pouco citados, ou citados para exemplificar a encarnação do mal sem limites, cito Hitler, uma fera no meios dos homens, carregará a má fama pela eternidade com o lugar assegurado no inferno.

Michael Jackson era um famoso, um artista, voz suave,dançarino, compositor, filantropo, humanitário e outras qualidades que as pessoas chegadas a ele não se esquivam em testemunhar. Dizem que era pedófilo, não sei. Com certeza sabemos que ele era inequivocamente um artista, nada mais.

Quando ele entrava no palco, não tinha para mais ninguém, o cara arrebentava, dançava seu moonwalker, influenciando toda uma geração, cantava músicas belíssimas de sua composição, sensibilidade a toda prova. Ultrapassou o muro odioso construído pelos brancos para impedir a entrada dos negros. A música foi sua arma. Letal.

Mas....e a fama do outro? Quem suporta? Quem convive bem com a própria mediocridade? Quem? Muita gente, milhões de pessoas, a grande maioria, não há saída, ou bem reconhecem o valor do outro mesmo sem gostar ou se expõem fazendo críticas desprovidas de embasamento técnico. Michael jackson foi genial.

Por esses dias em que a mídia está em alvoroço com uma matéria "das boas" para preencher seus espaços e substituir suas colunas e apresentações televisivas insuportáveis, Michael Jackson tem sido apresentado de forma vergonhosamente desrespeitosa. (nem sei se a palavra "respeito" tem algum significado)

Gostaria de saber qual é a credencial que certos jornalistas têm para se dar ao direito de falar e vilipendiar uma criatura em sua aparência física, comportamento, maneira de viver e outras coisas mais como estamos assistindo na TV e lendo nos jornais e revistas. Digamos que nenhum deles como o antipático grupo do Manhattan Connection, primou pela beleza, inteligência ou o conhecimento da alma humana. O tal do Diogo Mainardi, um chato sem similar na estória do jornalismo, devia se aposentar por invalidez mental. Figura mais agressiva e estúpida, nesse mundo, se há, eu nunca vi. E o pior...tem platéia, seus sequazes acham a maior graça nos comentários mordazes e implacáveis que faz a qualquer um que tenha alguma fama. Para esse senhor não existe a comiseração, o respeito humano, a possibilidade de redenção do homem. É um entendido do nada. Mais que falar, Mainardi pontifica sem lastro técnico sobre qualquer tema. No caso em questão, será que ele entende mais de música que todos os profissionais do ramo que não se furtaram em fazer os maiores elogios a Michael Jackson? Ah seu Mainardi se tudo que a gente pensa pudesse ser dito como é de sua prática, o senhor escutaria umas tantas.

O fato é que indiscutivelmente Michael Jackson foi uma das grandes personalidades da música pop do século XX. Fala-se muito de seus problemas de outra natureza, mas a justiça americana que não perdoa ninguém não o condenou. Se teve um comportamento excêntrico, fora dos padrões impostos pela cultura, soube também deixar sua marca, sua música e seu talento para a posteridade.

Lamentavelmente Michael Jackson morreu e com ele levou os segredos e os porquês o fizeram ser tão diferente, tão copiado e tão querido. Como dizia o finado jornalista Ibraim Sued,terrível lançador de farpas a elementos que lhe eram desafectos na sociedade carioca, "os cães ladram e a caravana passa". Isso ele dizia bem, doravante o copiarei.

domingo, 28 de junho de 2009

VOAR, VOAR E VOAR.....















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Voar é coisa de pássaro,
Mas não sei por qual milagre eu voei,
Aqueles que me julgam e condenam,
Um sorriso de olhos lhes deixei.
De mim não guardem lembranças,
Nem pequenas saudades ou até temor.

Na vida tudo vem e tudo passa,
Menos o desterro do amor.
Tal exílio não é para outras terras,
No corpo o amor tenho guardado.

Ainda que um dia alguém o clame,
Não me solte vento nesse mundo
Só me entregue depois de libertado
No íntimo contacto com o infinito.

O vento içou suas velas e me levou,
Voava minh' alma pelo espaço,
Enquanto na terra meu último grito,
O zéfiro o varreu e o apagou.

Voar é coisa de pássaro,
Mas não sei por qual milagre eu voei.
Voei e lá do alto bem alto
Em nuvem me transformei.





sábado, 27 de junho de 2009

O silêncio: arma infalível






Em qualquer situação que te encontrares, nunca se esqueça que o silêncio é o discurso mais eloquente. Isso foi dito por um filósofo, a êles devemos os mais sábios aforismos.

Lembro-me de uma situação muito difícil que passei há algum tempo. O terrível é que estava sózinha e não tinha com quem compartilhar aquilo tudo que estava vivendo. Pensei, está tudo perdido, sem conselhos e opiniões fico sem ação, não sei que caminho tomar. A coisa era de tal forma devastadora que entrei em uma igreja, precisava de um interlocutor. Encontrei, era um interlocutor silencioso e eu de minha parte também silenciosa. Esse foi o maior e mais importante diálogo de minha vida.

Quando estou em silêncio posso pensar sem limites, quando falo também posso falar sem limites, mas nem tudo que penso posso dizer. O silêncio é minha zona protegida, é minha zona de segurança, sempre que a ultrapasso, estou em perigo.

Atenção: se você quiser ter uma visão limpa, cristalina de suas experiências, busque no universo infinito do silêncio a resposta. Você a terá. Nas relações amorosas o silêncio te traz mais benefícios que qualquer fala, ainda que essa seja inteligente. Tarefa difícil mas não impossivel. Tente. Afinal, a arma é infalível porque está apontada para você e acerta.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Do Passado

Se pudessemos dar nomes daria mas como não posso darei letras.

Para A.

Queria ser você por uma hora
O tempo, você sabe qual foi
Dentro de você eu saberia
Que a aquilo que eu chamava de aurora
Da vida, era um sonho
Dentro de você eu já morria.

Tudo ficaria claro, que dúvida
Tanto tempo eu não desperdiçaria
Sonhando com seu riso de pilhéria
Que cega pela paixão eu só queria
Ter você a vida inteira, que ironia
Se eu pudesse rasgava a fantasia

Foi um dia azul de luz intensa
Que bem ali você me apareceu
e por uma questão do meu destino
fui ingenua, mas certa do que sentia
declarei a você o meu amor, que loucura
nem seu rosto direito eu conhecia

Com o tempo o sentimento tomou rumo
Fora do controle de minha alma em sangria
se chorei eu não sei mais quantas vezes
mas de todas as lágrimas caídas
sinto que ainda apesar do tempo longe
tem uma que não suporta a despedida.

“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar inteira." Cecília Meirelles

Sempre fui um intrigada com a mente humana. Desde a mais tenra idade ficava impressionada com a imprevisibilidade das pessoas que me rodeavam. A mesma brincadeira podia ser motivo de risos incontroláveis ou de surras inesquecíveis. Eu era invocada com aquela estória de gente ter mau humor, eu era a exceção, estava sempre bem humorada e feliz. Observava mudanças tão súbitas nas pessoas que criei uma categoria específica para os adultos: “gente esquisita”.Quando cresci e virei gente grande percebi que engrossei as fileiras das “gente esquisita”. Acho que hoje sou o campeã de esquisitisses.

Ainda naquele tempo, por incrível que possa parecer, eu me preocupava com o que eu seria crescesse. Tinha medo de não ter um único lugar na terra onde eu pudesse ser aproveitada para trabalhar. Lembro-me de passar noites inteiras acordada me imaginando um nada, uma sem sorte, uma miserável. Até que superei meu drama de criança ansiosa, escolhi minha profissão, eu seria mendiga. Chegava a ensaiar um olhar que sensibilizaria uma estátua para pedir um pedaço de pão. Resolvi que mudaria de cidade viveria pelas ruas aos trapos, andaria pelo mundo, pedindo esmolas e contando às pessoas minhas desditas. Eu não queria amores, via gente grande chorar por causa dos amores perdidos, não teria filhos, vi minha vizinha chorar quando perdeu um entre seus dezesseis filhos, não queria casa, tinha que pintá-la de dois em dois anos, não queria contas, elas brotavam todo mês, sempre achei que deveriam acompanhar as estações do ano, uma a cada 3 meses. Era isso, estava decidida, eu seria um pão velho, esse era o nome que dávamos aos infelizes pedintes que tocavam a nossa porta. A fantasia era tão real que chegava a ter pena da inocência de meus pais pagando escola para mim, eles não sabiam, eu já escolhera minha profissão, mendiga por vocação.

As reminiscências de um tempo em que todos os dias foram domingos de sol me fazem rir. O que passa na cabeça de uma criança é coisa do outro mundo, não? Não. O que passa na cada cabeça de qualquer um 'e coisa do outro mundo, coisas inacreditáveis. Dizem que a criatividade humana é infinita, vejo isso com uma certa apreensão. Há quem veja como a mágica da vida. Cada um com seu cada qual, belo e triste ditado.Cada um tem seu próprio dialeto, no mundo há tantos dialetos quanto o número de habitantes. Há escolas para ensinar todas as línguas, exceto o idioma da alma. Esse é indecifrável, jamais o dominaremos.

Não sei porque fui cair no buraco da mente, pensar, que castigo. Não sei porque não segui minha nobre vocação de mendigo, sei que ainda posso ser um mendigo de sucesso mas sou covarde, não tenho coragem, não tenho força para dar um adeus para sempre a tido que sei da vida e cair na ausência de memória. Descobri uma coisa nova em mim. Sou artista, estou sempre fingindo não me horrorizar, mas como meus amigos não sabem que sou a senhora dessas letras, eu horrorizo e confesso que temo pela perda de controle e o esganamento até a morte de qualquer um deles. Meu Deus, quanto absurdo, quanto ódio, quanta inveja, tudo isso me é contado e eu escuto sem expressões faciais ou orais que traduzam meu enorme desprezo pela humanidade.

Percebo que nos diálogos que me são reproduzidos as pessoas nunca dizem às outras a verdade, a enganação e ocultação é a ordem do dia. Estou tão abismada com o cinismo mundial, que outro dia quase esbofeteei a cara de um colega que me desferiu um falso elogio, disse- me o sacana que eu estava linda para minha idade. Lógico que é mentira, sei que ele pensou, essa mulher virou um espectro, um marmota, mas como todos, falou exatamente o contrário.

Se meu padecimento fosse só por saber da vida de meus conhecidos estaria bem. Utilizaria o princípio da não generalização e atribuiria só a esse pequeno grupo essa malignidade por nascimento, pensaria, aqui está concentrado o mal da humanidade, dei azar. No entanto cada pessoa se desdobra em mais de 100 pessoas pelo menos e eu passei a odiá-las todas. Só me compadeço daqueles que cultivam a baixa auto-estima, considero uma enfermidade quase incurável, mas nutro um ódio sem fronteiras pelos que se aproveitam desses e tripudiam. Como pode ver, paciente leitor, estou à beira de um colapso nervoso. Vou relatar o caso que me trouxe à prisão e vocês julgarão se essa sentença foi justa ou não. Antes porém darei o meu ponto de vista. Como estou pela minha alta periculosidade em uma solitária, acho-a justa e para mim de grande benefício. Espero que no dia da libertação não ver nunca mais um rosto humano. Dispenso os espelhos mas não possuo a faculdade de dispensar a memória, essa é minha verdadeira prisão.

Não suportar a idéia da realidade que me foi imposta é destituir de significado o sofrimento que a acompanhou. Isso para mim é pior do que o fim do próprio sofrimento. Eu não tenho mais dúvida que toda a degradação moral e emocional que tenho vivido, tem se convertido lentamente em uma ascensão espiritual, em razão disto, aceito o que me foi tão asperamente impingido senão seria o mesmo que não tê-lo vivido. Agora quase 3 dias depois, eu assumo perante a mim mesmo uma humildade que se por um lado ela é silenciosa, por outro lado ela tem uma cara que quero conservá-la.

O mundo continua sua rota, algumas pessoas podem sofrer sem serem drasticamente importunadas. Isso não sucedeu comigo. Todas as intempéries que bateram à minha porta, eu as deixei entrar, amigos e inimigos encontraram o caminho desempedido e entraram. Aqui eles vieram e com ou sem piedade fizeram de mim a depositária de suas desventuras, de seus infortúnios, de suas próprias tragédias. Eu represento para todos, e disso não tenho dúvida, aquele traste que mais uma ou menos uma já não faz a mais mínima diferença. Meu sofrimento já é um patrimônio que, acredito, ninguem o aceitará como herança.

Pela primeira vez eu reconheci o mensageiro da morte que me entregou uma mensagem e partiu. Parece melodramático, não? Mas foi como me senti. Deixada completamente só de tudo que me pudesse consolar, tive que suportar a quase irresistível dor da perda.

Minha tristeza foi algo tão inenarrável que ao me ver frente ao espelho pouco depois de sua saída, foi o mesmo que ver um sudário estendido. Se essa não fôsse apenas uma analogia suave do que sentia, mas a realidade, com certeza eu estaria melhor. Meu mal era uma espécie de nevoeiro na cabeça que nem os médicos nem os padres podiam curá-lo. O esfôrço para minorar a dor da apunhalada servia apenas para aumentá-la e ao mesmo tempo abrir em minha alma um abismo vago apenas preenchido pela irrespondível questão: Por que êle fêz isso? Sem resposta eu sentia meu corpo cair prostrado, inerte, agonizando internamente enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto como um rio que leva todas as riquezas de seu leito. Ao lado disso a intensa dor: ele não me ama mais. Não, ele nunca amou. No entanto, isso era só o comêço.

Nos dias que se seguiam, a coisa apenas piorou .O mundo tormu-se para mim a configuração do estático, tudo perdeu o movimento, até os objetos em seus lugares eternos se tornaram olhos abertos para cinicamente contemplar a minha dor.

Eu sempre soube que por êle tive um sentimento puro, daqueles que não se embaraçam com dúvidas, que se conservam porque são raros. A dor da perda foi infinitamente maior que a felicidade que tinha ao pensar que o possuía. Se me fosse dado o direito de reverter o tempo eu abriria mão da felicidade que tive com ele para não confrontar a dor de sua partida. Por ele eu tive a mais intensa e extensa paixão.
Foi em uma noite como outra qualquer que ele chegou mais tarde que o usual com um sorriso afivelado na boca. Meu coração, antecipando o golpe, batia como o sino da igreja, algo me ia ser anunciado, maldita epifanía Seu olhar mergulhado no nada denunciava placidamente aquilo que lhe ia na alma. Maldito momento, era a declaração da minha guerra particular, meu pequeno Vietnam. Ele tinha outra.

O choque da frase dita por ele caiu em meu espírito como bala de chumbo no alumínio. Em sua fala estava contida todas as delícias das execráveis ironias do desprezo triunfante. Talvez fosse a lembrança da outra que lhe ressurgia seguida de atrações vertiginosas ao ponto de perder a altivez e lançar em minha cara a felicidade de se ver livre de mim. Ele exibia para mim, o que até agora me dói relembrar: a monotonia da retórica do adeus, sempre da mesma forma, sempre atenuada por elogios infrutíferos para revestir a saída com a soberba de quem está por cima. Ele que me parecia um homem de muitos paixões não soube detectar a dessemelhança de sentimentos sob a igualdade das expressões. Devo ter dito coisas pesadas, não sei, mas sei que em relação a ele, tive sentimentos nobres, muito nobres.

Eu sei que usou a medida que considerava certa. É com certeza também que eu sei que não conseguiu controlar o exagero do que sentia para reter na mão os mísseis que me atirava. Talvez ele não tenha conhecimento do efeito detonador de cada gesto, palavra e até mesmo olhar. Ele tinha outra.

Fui à sala, sentei-me no sofá, e então a ternura dos dias passados voltava em meu coração. Eram lembranças das frases poéticas que me foram ditas um dia, mas que apareciam intercaladas com pensamentos imprecisos, nostalgia do passado, e um terrível pavor pelo que ainda estava por vir. Eu já previa o que estava por vir. Veio.

Comecei a rezar, com a esperança de que do céu descesse uma resolução divina; e, para atrair a comiseração de Deus prometia o incumprivel. Nada porém silenciava o lamento interno e a febre que tomava conta de meu corpo, provocando um incomodo que nenhuma morfina seria capaz de acalmar. De desesperada eu me via apoplética, bombardeada pela terrível notícia que para ele saiu da maneira tão tranquila. Eu pasmada pela apunhalada mais profunda que me foi tão implacavelmente desferida. Ele tinha outra.

O amor que lhe dediquei foi colocado ao lado dos trastes que não queremos mais. Pouco a pouco eu me tornei a protagonista do escárnio, das pilhérias, da vingança, dos ódios das pessoas. Tenho também a conciência do quão irresponsável é o comprometimento amoroso. Eu posso ter clareza que a passividade, a tranquilidade de um não tem nada a ver com o inferno do outro. Nada mais conta. Eu me dei conta que o desrespeito de uma criatura pela outra se localiza no patamar do que de mais hediondo há na natureza humana. Nietzche dizia que quando a casa está em chamas até de comer se esquece. Mas depois come-se sobre as cinzas. É o que estou fazendo.

Hoje eu me sinto a vontade para bradar do alto das montanhas todo o sentimento que dividi com ele, ou melhor, comigo mesmo. Agora só me resta uma coisa: a resignação. Eu perdi e está perdido.

No entanto, não posso agora deixá-lo partir carregando no peito qualquer culpa por ter descolorido minha vida, pelo menos por algum tempo. Estou convicta de que fui eu mesma que a destruí. Eu deixei de ser a controladora de minha alma. Ninguém por grande ou pequeno que seja pode se perder a não ser por meio de suas próprias mãos. Por pior que seja o que o mundo me fez, mais terrível foi ainda o que fiz a mim própria. Eu gostei mais do outro que de mim, grande êrro.

No fim, depois de tudo, "se assim foi é porque assim é que tinha de ser, se assim o foi". (Guimarães Rosa)

Outra revelação:
Já não me lembro de seu nome.
Já não me lembro de sua fisionomia.
Já não escuto sua voz.
Será que fui eu que vivi aquela via crucis? Acho que não.

Isso que segue abaixo pode ser aplicado a qualquer objeto de nosso amor, não há um só destino, são vários. Recomeçaria tudo outra vez....com o novo eleito.

PARA QUE SEJAMOS NECESSÁRIOS

Transfere de ti para mim essa dor de cabeça, esse desejo, essa violência
Que careça em ti o meu excesso e que falte o que tu tens de sobra
Que em mim perdure o que te morre cedo e que permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido que em mim desapareça.
Dá-me o que possuir tu o que não te importas
E eu multiplico o que te falta e em mim existe para que nosso encaixe forme uma unidade – indivisível que não se possa subtrair uma metade.

Bruna Lombardi
No Ritmo dessa Festa

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sofrer de amor

Nada mais equivocado que dizer que se sofre de amor. O amor não tem a ver com sofrimento. Amor é algo puro que só existe nas criaturas de espírito muito delicado, são poucas. O mal nunca está no amor, quem assim afirma, jamais conheceu o enigma desse sentimento comum de ser falado e incomum de ser sentido. Sofrer de amor é desvirtuar o amor. Sofre-se muito mas nunca de amor. O amor é a felicidade sem fim, sempre. A ausência dele é que mata, não da criatura a qual dedicamos o amor, podemos dar o amor a outra pessoa. Se é que alguém tem amor para dar.

Há alguns anos atrás conheci um rapaz estrangeiro e ele dizia que me amava para sempre. Eu achava aquilo uma bobagem, afinal as chances de ficar ou estar perto dele, ainda que por um tempo, inexistiam. Um dia lhe perguntei: mas como você fala tanto que me ama se não tem a mais mínima posibilidade de um dia estarmos juntos. Êle respondeu: vou te amar por toda a vida porque meu amor não passa pelos olhos e sim pela alma. Gostei. Verdade? Não sei, mas sei que acreditei e ainda hoje acho que tenho o amor de uma criatura perdida pelo mundo. Isso não faz mal a nínguem.

Sinto saudades daquele tempo e daquele amor.

Vai aqui uma para êle:

Meu querido, entrar em ressonância com você em corpo e alma, foi de minha parte uma paixão amorosa. Te conhecer foi um acaso, te perder de vista, um castigo.

Depois conto de outro amor estrangeiro.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Me disseram que dor que mata, mata.

Minha intenção não é discutir se esse sentimento mata ou não. As metáforas são as grandes aliadas para expressar o que estamos passando nesses momentos de penúria do coração. No entanto, sem perder de vista o futuro de liberdade dessa prisão sentimental, temos que usar todas as estratégias para tornar esse tempo mais leve. Segundo o poeta, o díficil não é a partida ou a chegada mas a travessia.
Eu tinha um amigo que ao falar desse tema que o notabilizou pela insistência em repetí-lo, aparecia a cada dia com uma nova. Sempre triste e sem ânimo me olhava com os olhos pingados e dizia: " é como um canal de dente no coração"; "ai meu Deus, sinto uma febre interna que não cede"; " de hoje não passo, ela está namorando...traidora"; "já resolvi, vou beber para esquecer, cicuta é a solução". E assim passaram os meses até que um dia o encontrei sorridente e saltitante. De cara perguntei: "ei, já superou?" O canalha que tanto me preocupou respondeu: "Eu estava doente?". Pensei: "passou". Falar daquele martírio era tocar em chaga que depois de cicatrizada tinha que ser esquecida para sempre.

Já volto

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Continuando.....

Antes que as esperanças morram, comunico que essa dor não mata. Dor que mata é apenas uma expressão destituída de verdade comprovada. Sim, matou românticos do século XIX, matou suicidas desvairados que não suportaram o confronto com a realidade. Mas essa dor que mata não mata, se matasse o mundo estaria vazio, a cada minuto alguém no planeta é atacado por esse vírus que aparece em confissões desmesuradamente cretinas para o infeliz do desamor do outro, e aí...segura coração!

Frases clássicas do algoz bonzinho:

"Eu não gosto mais de você, ou melhor, te adoro, mas não para namorar, podemos ser amigos".
"Preciso de um tempo".
"Você é uma pessoa fantástica, não a mereço, procure alguém que te faça feliz".
"Nossa relação não está boa, melhor separarmos enquanto nos amamos".

Frases clássicas do algoz sádico:

"Não tenho atração física por você, perdi o tesão".
"Acho que existe uma defasagem entre nós dois, você não evoluiu em nada nesses anos de relacionamento".
"Você tem um ciúme que eu não suporto, odeio ser controlado".
"Achei outra pessoa, estou inseguro em meus sentimentos".
"Estou em dúvidas, não sei se ainda gosto de você e até se gostei algum dia, acho que foi só um fogo de palha".

Quantas palavras em vão, quantos dizeres desnecessários! A verdade daquele momento é uma só: NÃO GOSTO DE VOCÊ e ponto.

Agora começa o calvário que mencionei e as explicações do que não precisa ser explicado. O fato é que muito embora esse drama seja igual ao de todo mundo, a gente se sente o escolhido para pagar pelos pecados da humanidade. Por uma questão de desajuste entre emoção e razão tornamo-nos o Cristo Crucificado, a vítima da vez, a mais infeliz criatura que o sol cobre sobre a terra.

"Quanta tristeza carrego comigo desde que fui descartado"; "Nunca mais quero me apaixonar"; "Poderia ter sido diferente, êle/ela foi implacável, cruel, sacana, filho da mãe"; "Dei pérola aos porcos"; "Vou morrer, não passo dessa noite"; "Vingança...meu objetivo doravante" e outras e outras frases sem sentido.

Tudo em vão...cada caso tem suas singularidades, o único elemento em comum é a dor que mata sem matar. Seguramente, em têrmos de intensidade é a dor número um, a maior de todas. Alguns a chamam de perda, até concordo, mas ao par da perda a auto-estima é abalada e esse abalo provoca um estrago de amplitude incontrolável para a maior parte das pessoas. Esse é um ponto que falaremos mais adiante.

As frases clássicas são usadas por falta de criatividade, nada mais. Todas idiotas. Os lamentos são palavras ao vento, nada mais. São desabafos.

Falemos dos sentimentos reais e como tentar amenizá-los para aliviar o tempo que parece se eternizar entre a "dor que mata" e a liberdade da alma.

Não sei se volto hoje ou amanhã.

Amor-que-mata

Ainda que eu tivesse escutado eu não entendia bem o que estava acontecendo. Aquela pessoa que eu amava mais que o ar que respirava me disse: vou embora, não gosto mais de você. Simples e objetivo, mas com o efeito de uma bomba atômica explodida no meio do peito que queimava como um vulcão em erupção. Assim começou meu calvário, vou contar para todos essa experiência e mais como me salvei, acho que me salvei.