domingo, 1 de novembro de 2009

O Dia dos Mortos


Nada mais emblemático que a Pietá para representar a dor da perda de um filho, está é uma dor que mata. Amanhã é o dia dos mortos, dia triste, fúnebre, nostálgico, dia da dor que entra no coração dá uma pequena volta e entra outra vez. Que vontade desesperada de ver seu rosto, de ouvir sua voz, aquela voz que no mundo não há igual, seu alô ao telefone, quero te ver andar com seu passo em harmônico compasso, seu riso, quero seu cumprimento no dia do meu aniversário, sempre o primeiro. Quero você de novo, quero escutar o que tem a dizer, quero ouvir sua sensatez, quero te ver cultivar as orquídeas, quero ouvir seu assobio, quero te ver fumando, tomando chimarrão,ouvindo a transmissão do jogo do Atlético (hoje êle ganhou,3 gols para você), quero você com a minha idade, somos iguais, eu te alcancei e hoje sou mais velha que você. Aquele foi o dia mais triste da minha existência, febre interna, alma agitada, dor intensa sem interrupção, sem remédio, é a única que consigo sentir outra vez. É só lembrar de você e essa dor volta como um vulcão em erupção.
Mas eu te chamo, venha só um por um tempo, diga que você só foi ali, converse pelo amor de Deus, entre por essa porta então, não fale nada, mas deixe que eu ponha meus olhos em você materializado uma vez mais. Eu não suporto a idéia de conviver só com as lembranças, te quero real. Quero ser menina e ter ainda você, meu pai.

Senhor, dê-me um dia, só um dia para acalmar essa dor além de qualquer expressão. Se não pode ser de outra forma, se é o único caso que o "nunca mais" se aplica inexoravelmente, traga o meu pai no meu delírio onírico.

Amanhã é o dia do mortos. A morte não existe, ela ronda e leva as pessoas que continuam vivas e falando dentro da gente até acontecer o grande encontro. Disso não tenho dúvida. Nesse dia não haverá mais nem uma lágrima, só o sentimento de plenitude de ver meu pai e tornarmos eternamente iguais.

Meu pai, Paulo Campolina, meu pai.

3 comentários:

  1. Lindo o texto, professora, muito intenso. Não sei o que é perder algo ou alguém de tamanha importância, mas só de passar perto disso algumas vezes, confesso que fiquei paralizado, atônito. Acho que no fim das contas, o tal desapego é impossível.

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  2. Emocionante mãe! Está aí uma dor que me mete medo, a dor de viver sem você. Te amo, Rachel

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  3. Esta, sim, é uma dor que mata. Compartilho do mesmo sentimento que a Rachel. Priscila

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