sábado, 20 de junho de 2015

quinta-feira, 24 de abril de 2014

CONSCIÊNCIA CONSCIÊNCIA



Parede branca a minha frente,
Cale-se, não diga mais nada,
A ti nunca pedi opinião,
De ti nunca pude me esquivar.

Como podes ser tão fria?
Valente és em me encarar,
Não nego entretanto sua proeza,
De tudo dizer sem se expressar.

Quando te vejo silenciosa e atrevida,
Lembrando-me de algum feito meu,
Sinto a loucura rondando,
Como se a morte pedisse lugar.

Não mostre mais sua cara, te imploro,
De tudo sei como autora que fui,
Deixe-me por um instante, maldita,
Tu és um espelho que quero quebrar.

Se eu pudesse eleger livremente,
Algo para minha vida desgraçar,
Não seria uma parede tão branquinha,
Letal sem sequer se movimentar.

sábado, 15 de março de 2014

FICÇÃO REAL: TRISTE MUITO TRISTE






 O sol se põe todos os dias, mas volta a brilhar ao dia seguinte, é só uma questão de tempo. Essa foto eu tirei em Nazaré (Portugal).



Foi um encontro casual, não previsto, nem sonhado, que se tornou em uma história de amor. Do ponto de vista da moça foi um amor distinto de outros amores, para ela, um antigo amor eleito como o maior amor da vida, passou a ser apenas um fragmento na memória. Foram muitos anos em que aquele encontro se repetiu  quase diariamente, nada perto da eternidade, mas foram anos com mais, muito mais que 365 dias, dias intensos e consagrados como dias e noites sem regresso. Nada faria voltar às sensações de cada um deles, sempre algo inédito acontecia. Até um simples beijo era único. Beijos que os olhos cerram, e como pássaros enjaulados pelas pestanas aceitam placidamente a prisão. Maldita prisão.

O tempo transcorria sob os pés da moça, que a cada encontro se via tomada por tamanha ternura pelo rapaz, que sua alma precisou de uma suplementar para albergar aquele sentimento. Uma alma era para o mundo, a outra para ele. Ambas dentro de um só corpo, mas ambas eternas. A magia estava instalada. Os pensamentos e atitudes da moça prescindiam da palavra para se expressarem, tudo era transparente e cristalino.


Um dia o tempo fechou. Assim se diz quando as nuvens se aquartelam no céu azul e a noite se antecipa. São os tais enigmas, as forças contrárias que conspiram contra a sacralidade de um amor, ...amor perfeito? Que sei eu? Só sei que nessa impertinência metereológica a  história nublou. Cada um para um lado. Dor autêntica, lágrimas vivas. Foram dias que até o diabo renegou. Dias malditos.
Mas o tempo, grande aliado, começou a atuar em seu silêncio poderoso. Tudo passou. A imagem dele foi distanciando da mente da moça, como se fosse um espelhismo, até quase desaparecer. Ela jamais o procuraria, já tinha aprendido com os pássaros que nunca se deve posar em campos onde há espantalhos.

Não obstante a paz de espírito, a alma suplementar ficou, estática, silenciosa e fria, mas ficou. Maldita alma.
 (leiam a entrada "O Espantalho")



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Adeus Madri!







Pôr do sol da minha janela










Essa é a última postagem que faço em Madri, daqui a pouco sigo para o aeroporto. Estou feliz, fui feliz aqui como era no Brasil. Terei Madri no coração para sempre, agora só quero ver minha mãe, minhas filhas e netos, irmãos e amigos. Deixo Madri sem lágrimas, sem nostalgia. Essa última seria uma opção pela dor. Foi um tempo, passou. Foi um tempo muito bom, mas em certos momentos, saltando para não tropeçar em algumas pedras, melhor dizendo, pedrinhas.

Agora só quero Brasil.

Adeus Madri!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

"PRONTO FALEI"

Nova onda nacional: "pronto falei". Tenho escutado essa dupla da boca de todo brasileiro, que encontro ou falo ao telefone. Muitas vezes a pessoa quer dizer uma coisa mais pesadinha, ou fazer uma observação a sua conduta, usa o "pronto falei" e  a situação está resolvida. É mais ou menos como o famoso, não menos culpado, que o "fui mal". A primeira é de exclusividade de pusilânimes que nunca se posicionam e quando o fazem, saem com um "pronto falei". Esse memorável feito merece uma comemoração à la Champagne em casa, às vezes Cidra, é mais baratinho. O segundo é uma saidinha clássica de coisas que não poderiam ter sido feitas. Por exemplo : dirigir bêbado e atropelar 5 pessoas, deixando 3 sem vida. Ao invés de se matar para não carregar a culpa, só murmura:"fui mal".








Logicamente ambas as expressões têm um aspecto positivo Só falarei da primeira. Eu a vejo como uma liberação de coisas guardadas e resguardadas. Um dia a pessoa revela a antipatia e já se desculpa com o antipático "pronto falei". Falasse antes, que medo é esse do "Nada", que atormenta a alma do ser humano e passa a vida engolindo coisas indigestas e um belo dia libera a alma, mas não dá ao outro nem o direito de defesa, nem uma possibilidade de mudança de comportamento se fosse informando antes do que chateava o chateado. Aliás os chateados também chateiam muito os outros. Eles adotam formas sub-reptícias de se vingarem.

Não existe ser humano que passe por cima de ofensas ou humilhações. Abro um parênteses para deixar claro que as ofensas e humilhações estão, na maior parte das vezes, embutidos nos complexos e fragilidades de cada um. O ponto é que a forma de dar o troco, nunca é a tradicional. Ela aparece nas formas mais diferentes e de tal forma que o outro nem se dá conta que "aquele comentário maldoso", é um troquinho por algo que estava guardadinho e já mofado pelo ódio. Mas, e a coragem de dizer? E a coragem de enfrentar? O enfrentamento pressupõe perdas, que nem sempre são interessantes para os adeptos do "pronto falei", a grande glória a ser conquistada!

O "pronto falei" expressa duas características da pessoa: a primeira é a covardia de não resolver os problemas na hora e a segunda, que é, de certa forma benéfica para ela, é a liberação do que só com um "pronto falei" por trás, dá conta. Observe que o `'pronto falei" pode ser expressado de outras formas. Também não pode passar desapercebido que o "pronto falei!", precede uma fuga rápida do local. O covarde não fica para escutar a resposta, ele não a suporta. Até chegar à ação heroica de falar algo ofensivo para alguém, ele já passou por várias etapas, (rsrsrsrs) e também já escutou muitas e não reagiu.

Afinal, as pessoas não são únicas? Siderar o outro é uma arte, mas há de saber fazê-lo e isso é para poucos.


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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

REAL MADRID X ESPANYOL







Embora não pareça estava animadíssima neste jogo. Há muito queria ir ao Estádio Bernabéu, mas por uma razão ou outra fui adiando e só nessa última terça-feira, tive a felicidade de assistir a partida. Fui só, eu e minha torcida pessoal. A todo tempo lembrava-me do Glorioso Galo, pelo qual sou fanática, mas me dei conta que também sou fã do Real Madrid. O jogo foi uma maravilha, como madridista doente, o hino do time é tocado e cantado por Placido Domingo. Emoção pura. Lágrimas por toda parte, ao mesmo tempo que pensava no meu Atlético, gritava pelo Real Madrid.

Isso foi importante na medida em que me dei conta do quanto essa cidade me cala fundo. Na hora em que você torce, aplaude e vibra pelo time de futebol local, significa que parte de seu coração pertence, se isso é possível, à cidade. Na hora do gol foi a glória total, sentia-me como um pássaro nos ares, ali não havia repressão, eu era dona absoluta de todas as minhas emoções e as manifestava como se no mundo só existisse eu. Vergonha? Nenhuma. "Dále Madrid", era o que eu ouvia e fazia coro com as milhares de pessoas que estavam ali. Estádio lotou nos últimos 10 minutos antes do início do jogo, frio de matar, mas nada pode impedir um madridista de homenagear o time. Quando acabou o jogo com a "nossa" vitória, senti que podia morrer ali, morreria feliz. Eu vi o Real Madrid, eu vi o time jogando com garra, vi o Espanyol, que é um time de Barcelona também lutando, mas o Madrid levou o V de vitória.

Voltei de táxi, o motorista me confessou que detesta futebol. Meu ódio foi imediato: "Ah, quer dizer que o senhor não tem uma paixão na vida? Tenho senhora, sou viciado em jogo de cartas. Jogo de baralho, perguntei? É passo todos os finais de semana jogando, respondeu". Ali acabou nosso diálogo. Que coisa mais entediante, pensei, ficar horas à frente de uma mesa, sem se movimentar com nada que não sejam os olhos, olho na carta, olho no parceiro.

Antes de descer do táxi perguntei ao viciado, "que dia o senhor nasceu, ele respondeu meio sem graça, no dia 12 de julho, o senhor comemora, continuei? Sim se não é sábado ou domingo,  por causa do jogo de 'cartas'. Quantos anos o senhor tem, me atrevi. Tenho 41, respondeu. O senhor já pensou que nesses  41 anos de vida, passou 41 vezes pelo dia de sua morte sem o saber? Desnorteado ele perguntou, mas o que isso tem a ver com futebol ou baralho? Nada, senhor, é só mais um dos enigmas da vida.

O certo é que os seres humanos e nem todos, só sabem o dia do seu nascimento, em comum, não têm mais nada. Tudo é uma questão de idiossincrasia, cada um veio a esse mundo defender sua singularidade, grande enigma.


FLAUBERT E O BOLERO DE RAVEL






O primeiro acorde é o sinal daquilo que só algumas almas entendem. Não são almas comuns, são
almas em sintonia. A sintonia em que o amor é engenheiro e construtor. Poucos no mundo conhecem essa magia. Só a música empresta a ela a sensualidade que os corpos materializam silenciosamente. O trotar dos cavalos descendo pelas ruas que ladeavam a Catedral de Notre Dame, descritas por Flaubert, entoavam e davam vida aquilo que as laterais da carruagem tinham a exclusividade de testemunhar. 

Os amantes sempre precisam de algo mais que os próprios corpos. Ravel o fez. Talvez e provavelmente, ele não sabia que aquele Bolero, menos de um século depois de Flaubert, poderia substituir o trotar dos cavalos. O Bolero seria a expressão musical, cadenciada pelos movimentos, que com mais ou menos ardor, Madame Bovary, movida pela loucura da paixão desafiou a sociedade francesa em nome do que lhe era mais caro: o exercício do amor total. Enquanto o Bolero aumenta o tom e cresce como se almejasse o infinito, o ballet bailado e sublimado, se blindado pelo amor verdadeiro, também aumenta na simbiose que torna dois seres em um só e assim permanecem clamando pela eternidade. O "amor" sem amor é subutilizar as possibilidades de entrar em consonância com a música e conhecer o Nirvana.