sábado, 27 de março de 2010

TUDO É UMA QUESTÃO DO TEMPO DO VERBO







Comigo ninguém faz gracinhas, meus limites eu traço, eu não levo desaforos para casa, ninguém me desrespeita, homem não mete a cara comigo, em mim ninguém põe a mão, meu nome não anda por aí na boca de qualquer, ninguém grita comigo. Frases como essas são infindáveis, escuto-as todos os dias, mas todos os dias mesmo. As pessoas querem ser espantalhos (vide "O Espantalho" neste Blog) mas é impossível, não há como por limites nem antes nem depois dos insultos, o sinistro já aconteceu e há de se dormir com essa.

O ponto nevrálgico da questão, ao meu ver, é o tempo do verbo utilizado. Melhor seria usar o futuro do presente que é um tempo verbal que se refere ao tempo do 'prevenir-se', do 'precaver-se'. É só fazer uma irrisória mudança e a frase torna-se verdadeira: comigo ninguém fará gracinhas, meus limites eu imporei, eu não levarei desaforos para casa, ninguém me desrespeitará, homem não meterá as caras comigo, em mim ninguém porá as mãos, meu nome não andará por aí na boca de qualquer um e vai por aí.

Conversa fiada, não há como evitar, todo mundo leva desaforo prá casa. É só uma questão de aceitar que já levou, leva e levará. Se não gostar, fique sem gostar e pronto. Meu conselho: ouvidos de mercador, afinal já é sabido que "os cães ladram e a caravana passa". E lá vou eu.


quinta-feira, 25 de março de 2010

UMA MORRIDINHA, SÓ UMA VEZ POR ANO







Deveria funcionar assim, amanhã vou dar uma morridinha por um ano. Acertado. Seria uma redenção, já imaginaram desviver por um ano? Estar fora desse mundo um ano a cada 10 anos, à moda do ano sabático, que felicidade! Teria me visto livre de inúmeros finais de semanas, de conversas intermináveis, de festinhas de aniversário, de reuniões de trabalho, de contas inumeráveis, de chateações do dia a dia, de velórios, de casamentos, de blitz no trânsito, de problemas de saúde, de viver sem tréguas.

E minhas meninas, meus amigos, meus alunos, meu amores? Por seguro estarão felizes com minha ausência, das minhas aulas, das minhas conversas e conversinhas e mais do que isso, de algo que não sei e acho que não preciso saber. O que sei já é o suficiente, dá para rir e para chorar. Um detalhe, o que me fez chorar, jamais me fará rir, isso é fato.

Oh Deus dê-me a benção de uma morridinha. Reivindico também o direito de não voltar ou voltar só para homenagear o poeta, " Minha terra tem palmeiras onde cantam sabiás. Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá".

Nesse retorno eu serei a mesma, ainda que com a consciência que o outro é perdido, que as pessoas são as pessoas como elas são e que o mundo gira mais rápido do que se pensa. Isso vou levar para o túmulo quando o morrer e não em uma simples morridinha. Quem ler entenderá e me fará eco.

Há tempos extensos de minha vida que não vivi, eu estava morta. Quem sabe essa morridinha já vinha acontecendo de 10 em 10 anos e por pura falta de atenção eu não a considerei a grande benção? Sim, depois desses períodos a vida foi sempre muito, muito melhor. Que cegueira a minha!

domingo, 7 de março de 2010

ALGUMAS MENTIRAS UNIVERSAIS: VINGANÇA III









Tenho um amante...sou feliz! Mentira atlética. Esse é o mais amaldiçoado equívoco que ainda ilude uma grande porcentagem da humanidade carente. Ter um amante é o solene início da operação fio da navalha e o triste fim da paz de espírito. Não que eu advogue pela fidelidade irrepreensível, pelo olhar destituído do desejo e pela ausência da paixão súbita e suicida. Impossível, seria negar a marca humana e o renascer à toda prova. Mas essa aparente felicidade materializada por doses altíssimas de adrenalina que espalham por todas células do corpo, é o primeiro sintoma da demonização do cobiçado éden. Em um espaço de tempo infinitamente menor que a velocidade da luz, o sonho torna-se um pesadelo, dos piores. Não existe amantes que vivam em paz, eles estão permanentemente assombrados pelo terror do flagrante. O mundo dos "homens de bem" conspira contra os apaixonados fora dos marcos institucionais do casamento. Uma vez comprometido com alguém, acabou a alegria de viver, acabou a graça.

Perceberam que o caso é sem saída? Poucos são os eleitos para viver uma paixão eterna com o cônjuge oficial até a morte. As alternativas possíveis para atenuar o suplício do casamento sem amor são catalogadas no código penal como criminosas, sem direito à habbeas corpus ou pagamento de fiança. Nesse ponto da tragédia a questão sai do campo da emoção e entra na implacável esfera da lei. Fez? Tem que pagar e caro. Por isso ter amantes nessa sociedade monogâmica é fria, é caminhar de mãos dadas com a punição, mais cedo ou mais tarde.

Solução: não se prenda à ninguém, não jure fidelidade, não assine papéis, mas se cair na armadilha da paixão, reze muito, Deus descerá dos céus para te proteger. É mais fácil se livrar de um grande amor que carregar o estigma de traidor. Recorrendo à história para exemplificar, cito: "ao traidor a execração em praça pública". A coisa é tão absurda e canalha, que em geral, aqueles que punem os traidores, saem correndo dos tribunais para cairem nos braços dos amantes. Nesse momento de idílio amoroso se esquecem que em breve serão a bola da vez.

Mas tem um segredinho, se você quiser desejar mal a alguém, não pense duas vêzes, deseje-lhe uma paixão arretada por uma pessoa casada e que ela também seja casada. É a danação no inferno, é tornar-lhe a vida impossível. É levantar da cama com sono, é sair da mesa com fome, é beber água e a sede não passar, é a melancolia permanente, é o mundo ficar pequeno, é a festa sem música é a lágrima espalhada por todo o corpo, é dos males o pior. E como tiro de misericórdia deseje a essa alma em desgraça que a paixão seja fugaz, para o outro.

Uma paixão arrebatadora, das vinganças a mais eficaz.