quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

REAL MADRID X ESPANYOL







Embora não pareça estava animadíssima neste jogo. Há muito queria ir ao Estádio Bernabéu, mas por uma razão ou outra fui adiando e só nessa última terça-feira, tive a felicidade de assistir a partida. Fui só, eu e minha torcida pessoal. A todo tempo lembrava-me do Glorioso Galo, pelo qual sou fanática, mas me dei conta que também sou fã do Real Madrid. O jogo foi uma maravilha, como madridista doente, o hino do time é tocado e cantado por Placido Domingo. Emoção pura. Lágrimas por toda parte, ao mesmo tempo que pensava no meu Atlético, gritava pelo Real Madrid.

Isso foi importante na medida em que me dei conta do quanto essa cidade me cala fundo. Na hora em que você torce, aplaude e vibra pelo time de futebol local, significa que parte de seu coração pertence, se isso é possível, à cidade. Na hora do gol foi a glória total, sentia-me como um pássaro nos ares, ali não havia repressão, eu era dona absoluta de todas as minhas emoções e as manifestava como se no mundo só existisse eu. Vergonha? Nenhuma. "Dále Madrid", era o que eu ouvia e fazia coro com as milhares de pessoas que estavam ali. Estádio lotou nos últimos 10 minutos antes do início do jogo, frio de matar, mas nada pode impedir um madridista de homenagear o time. Quando acabou o jogo com a "nossa" vitória, senti que podia morrer ali, morreria feliz. Eu vi o Real Madrid, eu vi o time jogando com garra, vi o Espanyol, que é um time de Barcelona também lutando, mas o Madrid levou o V de vitória.

Voltei de táxi, o motorista me confessou que detesta futebol. Meu ódio foi imediato: "Ah, quer dizer que o senhor não tem uma paixão na vida? Tenho senhora, sou viciado em jogo de cartas. Jogo de baralho, perguntei? É passo todos os finais de semana jogando, respondeu". Ali acabou nosso diálogo. Que coisa mais entediante, pensei, ficar horas à frente de uma mesa, sem se movimentar com nada que não sejam os olhos, olho na carta, olho no parceiro.

Antes de descer do táxi perguntei ao viciado, "que dia o senhor nasceu, ele respondeu meio sem graça, no dia 12 de julho, o senhor comemora, continuei? Sim se não é sábado ou domingo,  por causa do jogo de 'cartas'. Quantos anos o senhor tem, me atrevi. Tenho 41, respondeu. O senhor já pensou que nesses  41 anos de vida, passou 41 vezes pelo dia de sua morte sem o saber? Desnorteado ele perguntou, mas o que isso tem a ver com futebol ou baralho? Nada, senhor, é só mais um dos enigmas da vida.

O certo é que os seres humanos e nem todos, só sabem o dia do seu nascimento, em comum, não têm mais nada. Tudo é uma questão de idiossincrasia, cada um veio a esse mundo defender sua singularidade, grande enigma.


FLAUBERT E O BOLERO DE RAVEL






O primeiro acorde é o sinal daquilo que só algumas almas entendem. Não são almas comuns, são
almas em sintonia. A sintonia em que o amor é engenheiro e construtor. Poucos no mundo conhecem essa magia. Só a música empresta a ela a sensualidade que os corpos materializam silenciosamente. O trotar dos cavalos descendo pelas ruas que ladeavam a Catedral de Notre Dame, descritas por Flaubert, entoavam e davam vida aquilo que as laterais da carruagem tinham a exclusividade de testemunhar. 

Os amantes sempre precisam de algo mais que os próprios corpos. Ravel o fez. Talvez e provavelmente, ele não sabia que aquele Bolero, menos de um século depois de Flaubert, poderia substituir o trotar dos cavalos. O Bolero seria a expressão musical, cadenciada pelos movimentos, que com mais ou menos ardor, Madame Bovary, movida pela loucura da paixão desafiou a sociedade francesa em nome do que lhe era mais caro: o exercício do amor total. Enquanto o Bolero aumenta o tom e cresce como se almejasse o infinito, o ballet bailado e sublimado, se blindado pelo amor verdadeiro, também aumenta na simbiose que torna dois seres em um só e assim permanecem clamando pela eternidade. O "amor" sem amor é subutilizar as possibilidades de entrar em consonância com a música e conhecer o Nirvana.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

VOU VOLTAR






Quando Gonçalves Dias escreveu a "Canção do Exílio" em Portugal, certamente não lhe ocorreu que seu poema seria eternizado no coração de todos que o leram. Dizem que os leitores são co-autores das obras dos escritores. Concordo. Só o fato de gostar, não gostar, achar que poderia ser escrita de outra forma, confere ao leitor essa função, lógico que de menor grandeza.

Não há beleza, não há modernidade, não há nada que apague no coração de quem está longe da Pátria essa saudade doída, saudade de arrancar lágrimas vivas, saudade de sentir dor no peito, ainda que todo esse sentimento seja contido e escamoteado em risos e histórias para distrair o coração.

Há dias que busco nas fotografias, como Machado de Assis, uma companhia para estar comigo, "Na ausência de alguém, jante com o retrato". Quantos retratos, quantas lembranças, são lembranças coloridas de verde e amarelo, são os símbolos da Pátria, que tantos morreram e morrem por ela. Seja ela qual for, tudo "Por amor à Pátria", como intitulou Maurizio Viroli seu belo livro. A Pátria é onde está nossa ancestralidade, nossos mortos, nossos pais. E é para lá que eu quero voltar.

Vou voltar Priscila,
Vou voltar Rachel,
Vou voltar Paula,
Vou voltar minha mãe.

Sabem por que?
Porquê além de vocês,
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.

São palmeiras e palmeirinhas,
Que eu as deixei soltas por lá,
Mas em breve, muito breve
Tudo voltará ao lugar.

A que ponto posso falar,
Que nada mudou, impossível,
Mas aqueles que em mim habitam
Nem o tempo pode mudar.

Não permita Deus que eu morra,
Sem nelas colocar meu olhar,
Palmeiras como aquelas,
Eu nunca as vi por cá.

No dia em que eu voltar,
Ninguém sentirá o que sinto
Só dentro de mim estará
O alivio de em minha terra pisar.

Saudade é um sentimento autônomo,
Que dói só de aflorar,
Mas o consolo que salva,
É a certeza de para o Brasil voltar.


CANÇÃO DO EXÍLIO


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas
Nossas várzeas têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida
Nossas vidas mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeiras;
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores
Que tais não encontro eu cá
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá.

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que eu aviste as palmeiras
Onde canta o Sabiá







































MMMi

domingo, 19 de janeiro de 2014

SAUDADES DE MARÍLIA - MADRID 2013 - 2014







Quisera ser um poeta
Para à Marília, poder falar
Fique menina, mais uns dias
Para o sol aqui brilhar.

Agora que faltam algumas horas
Para a partida que há de chegar
Sinto dor em todo o corpo
E por seguro por ti chorar.

Tem sido um tempo inesquecível
De com você  poder estar
Mas para isso existe a memória
Que viva nela você estará.

Chegou de mansinho e silenciosa
Traço que nunca modificou
Marília você é um encanto
Que a todos conquistou.

Doravante os dias serão vazios
Sem ninguém para seu lugar ocupar
Não sei por que já vai embora Marília
Só para à tristeza dar lugar

Rimas pobres mas sinceras
Disso sempre lembrarás
Marília amiga, amiga querida
No meu coração morarás.

Dele será uma ilustre inquilina
De outra forma não sei me expressar
Saudades antecipadas já sinto
Que falta você já me faz

Como rimar é difícil
Como os poetas são sublimes
Queria ter o dom do mais simples
Para poder melhor me expressar

Da Espanha levarei saudades
Lembranças que guardadas ficarão
E você, oh doce Marília
Estará junto ao coração.

Se um dia de mim se lembrar
E alguma saudade lhe bater
Saiba de um coisa Marília
De você jamais vou esquecer.

Madri é uma cidade muito linda
A nós nos tratou com amor
Mas das penas da vida, uma delas
É que certas alegrias acabam em dor.

Madri para mim tem um colorido
Que o tempo nunca maculará
Foi sua presença amiga
Que com sua graça ajudou a pintar.

Vá Marília, há gente te esperando
Aqueles que a ti te têm amor
Mas não seja ingrata querida
Com os que pelo mundo deixou.

Ainda que não nos vejamos nunca mais
Nunca se sabe o que está por acontecer
De você Marília tenha a certeza
Jamais hei de me esquecer.

"AINDA BEM QUE NÃO SOU SURDA"




                                         Final de tarde em Nazaré, Portugal.
                                         Aqui ser surda, não é um castigo.



Há coisas que irritam a todo mundo, melhor, a quase todo mundo. Eu sou uma pessoa naturalmente bem humorada, mas prontinha para me irritar com as coisas mais inusitadas. Tolerância zero mesmo. Imagino que faço as mesmas coisas que me irritam nos Outros.Dizem que a gente observa no Outro aquilo o que é, melhor dizendo, nos projetamos no Outro. Não concordo. Há toda sorte de gente nesse mundo, entre o chatinho e o insuportável, passamos por uma gama que só não é infinita porque limitei minha antipatia na categoria dos insuportáveis. Se sou isso tudo, darei cabo da minha vida nesse momento. Só não o faço  porque Deus me privilegiou com uma vaidade sem limites, é ela que me salva de enxergar a mim mesmo, verdadeira salvação nesse mundo de lágrimas e ranger de dentes, (rs).

Dizem que todo homofóbico é um gay que ainda não se revelou. Discordo radicalmente. Deus que me livre de ter a audácia de querer que alguém me revele sua condição sexual real. Das tiranias sociais, essa é a capitã do time. Mas se tomarmos a afirmativa  acima como verdadeira e a estendermos às incontáveis  áreas do preconceito, entraremos no labirinto da mentira humana. A Ku Klux Klan teria sido uma organização de brancos que queriam ser negros, a negritude era o desejo velado de seus adeptos. Hitler queria tanto ser judeu, que mandou matar a todos, por pura frustração de não ser um deles. Aqueles que maltratam os pobres e desvalidos, sonham com a indigência. Os que destratam  e desprezam os ignorantes, não passam de sábios que se auto-rejeitam. Fica difícil  tomar esse caminho para entender o preconceito, não? Acho mais simples dizer com a cara limpa, "não gosto disso ou daquilo e assunto encerrado". Mas não sigam essa ideia, é crime inanfiançável. Só se pode falar aquilo que não fere ao diferente. Só essa frase já é um preconceito da pior qualidade. Assunto sem fim.

Voltando ao tema que me propus a escrever, vou comentar apenas umas poucas entre as várias coisas que me alteram o juízo.

1) Conto um ocorrido que pode ser do mais trágico ao mais irrelevante. O interlocutor não escuta até o fim e fica sôfrego para contar várias outros ocorridos do mesmo tipo, só para rebater. Isso é detestável. Em geral, esses "interventores" são  indiferentes ao problema do outro (se for o caso) . No caso de doenças a coisa é infernal. Se conto que sofro de um mal, me exaurem com o número de casos de gente que morreu com a mesma enfermidade ou que está entrevado numa cama. Outros ficam caladinhos, mas erguem as sobrancelhas e retraem levemente os lábios. Quer cara mais antipática e ameaçadora? O doente em si ou a tragédia contada fica para segundo plano, no lugar entra a história "nada a ver" do insensível.

2) Falo uma frase ou me vem uma ideia inédita, criada naquele momento. O interlocutor na hora já vem à carga: " imagine que falei exatamente isso ontem com fulana". Minha antipatia é soberana. Essa doença é aquela de querer tomar para si a criatividade e o ineditismo do outro. Muito comum. Além de roubarem minhas ideias, as antecipam para não haver problemas de autoria. Isso me irrita.

3) Conto um caso meio inacreditável. Isso me ocorre muito porque presto atenção no mundo. Tudo pode acontecer, até o inacreditável. Se não acontecesse o mundo seria uma monotonia total. O que está ouvindo o caso, não só duvida, mas olha para uma outra pessoa da roda e meneia a cabeça indicando que acabaram de escutar uma barbaridade. Nesse caso, não tenho antipatia do outro e sim ódio de mim mesma por ter votado contra a venda de armas no Plebiscito de 2005 (5)? Certamente, se estivesse armada, daria um tiro certeiro na cara dessas pessoas, que "donas da verdade", ridicularizam o outro por uma história que, na maior parte das vezes, é verdadeira, mas foge ao cotidiano. Melhor expressando, passam desapercebidas para as pessoas pouco atentas.

4) "Adoro gays". Odeio essa frase. Ninguém adora gay, a gente adora várias pessoas, essa adoração independe da condição sexual do outro. Há gays insuportáveis e heteros mais insuportáveis ainda. Logo, essa frase é uma grande falácia, proferida por preconceituosos juramentados que escondem seu verdadeiro sentimento. De mais a mais adorar, só a Deus. Pelo resto temos uma pequena simpatia. Bem, há algumas exceções.

5) Detesto ouvir certas palavras que precedem ordens: "já que".....vc está na cozinha, aproveita e pega um copo de Coca e faz um sanduiche para mim; "aproveita".....que está no centro da cidade e compre uma linha preta de seda no Armarinho São José; "quando vier"..... passe pelo shopping e .... Enfim, essas são algumas palavrinhas que soam como agulhas nos ouvidos de quem as ouve. O folgado fica na dele dando ordens ao infeliz que foi descoberto em algum lugar que possa ter uma coisa de seu interesse. Isso é muito comum quando as pessoas viajam, são as famosas listinhas dos "encomendadores". Tudo é fácil para o outro. 

6) Carona, essa a palavra já diz. Nada pior no mundo que pedidor de carona. Você vai para o sul, o aproveitador vai para o norte e tem "cara" de te pedir uma carona. Tenho ódio de levar ou buscar qualquer pessoa da categoria 'carona', em geral, vira obrigação. E mais, os caroneiros descem do carro sem um 'muito obrigada'. Quando combino com alguém que ao dia seguinte vou dar-lhe uma carona para a universidade, por exemplo, passo a noite acordada para não deixar o outro na mão, fico com medo de acordar doente, sei lá...compromisso com acompanhante não é o meu favorito.

7) Ouvir detalhes de viagens, não de quem conta, mas de um desconhecido meu. Fico pensando como alguém pode pensar que interessa a qualquer pessoa nesse mundo a viagem de um ser que nunca viu? E as compras? E as maravilhas? "Já é a terceira vez que 'fulana' vai ao Vale do Jequitinhonha. (Cantem a música)
" É gente humilde que vontade de chorar..."


8) Não suporto namorados falando como criança. Coisa mais jeca não existe.

9) Ruído de mordidas em maçã: irritam à morte.

10) Mascador de chicletes de boca aberta, escancarada, permeada por bolas e plocs.


Paro aqui, já estou com antipatia mortal só de pensar nessas coisas. As outras são indizíveis. 


domingo, 12 de janeiro de 2014

A CHEGADA











Essa entrada aqui não vai para ninguém em particular. Todos deveriam saber que estar fora do país por um tempo longo, tem os dois lados: o bom e o ruim. O bom é o glamour de vir e o glamour de ter estado...conseguiu ficar, grande vitória. O ruim é ficar longe do Brasil, ainda que esteja feliz por uma série de acontecimentos, sobretudo na área do trabalho, sonha quem pensa que isso é um "sonho". O sonho pode ser a vontade de vir, mas a realidade pode ser um pesadelo. Não foi para mim, mas é para inúmeras pessoas. Há de ter muita gana para chegar até o fim desses estágios, sem vacilar.


As conversas entre brasileiros "exilados" são sempre permeadas por histórias do Brasil, da região onde vive cada um, histórias familiares, tristezas com as notícias imprevistas e sobretudo o sofrimento pelas ameaças de tudo que acontece de tragédia no país. As pessoas que estão fora, sabem o que é viver no Brasil e sabem como as coisas rolam por lá. Além disso, em todo grupo no exterior, há o "correio da notícia ruim", é aquele que passa o dia na internet buscando informações para passar em primeira mão. Ninguém precisa torturar os que estão fora contando os absurdos que acontecem no país, aqui se sabe de tudo. No entanto, é para lá que todos querem voltar.


Paradoxalmente, a volta é banhada de lágrimas, também não é fácil voltar e deixar para trás certas pessoas excepcionalmente únicas e também um tempo, que jamais será vivido da mesma forma. Bem, isso é o óbvio da vida.


Quinta-feira última, despedindo de um amigo que voltou para o Brasil, me dei conta que essa experiência tem um aspecto detonador no sentimento da gente, é a perda permanente. Aqui fazemos novos amigos, com alguns poucos manteremos o contato pelo resto da vida, mas a grande maioria, certamente, não veremos nunca mais. É uma história muito parecida com a que se passa com os colegas de colégio. Depois de convivermos por anos, acontece a formatura e...nunca mais. O contrário também é verdadeiro. Algumas pessoas muito chegadas que deixamos no Brasil,  são incapazes de dar um telefonema ou mandar uma carta para o amigo que partiu, ainda que a despedida tenha sido repleta de emoções e promessas de contato. O esquecimento vem quase na mesma medida de ambos os lados, os de cá e os de lá. Há algumas poucas exceções.


Mas o que mais irritou essa pessoa na festinha de "adeus", foi a antipatia prévia de ter que responder as mesmas perguntas, para todas as pessoas que vier a encontrar nos próximos cinco anos. (rsrsrs) São dois blocos de perguntas a enfrentar, o primeiro é feito pelos que sabem que você esteve fora e o segundo pelos que não sabem.


Perguntas feitas pelos que sabem da sua estadia no exterior. O calvário começa no aeroporto por várias pessoas ao mesmo tempo, ah, e tudo aos gritos.


1) Oi, fez boa viagem? Valeu? Fez tudo que tinha planejado? Viajou pela Europa? ( se sim, é um safado, se não, é um otário).
2) Você não vai se acostumar com isso aqui, já deve estar sabendo, né? A vida caríssima, bandido em todas as esquinas, assaltos à mão armada, trânsito infernal, nada funciona, governo roubando até dentadura dos pobres, um horror, porque voltou para esse inferno, seu idiota? (já talhou o sangue)
3) Passou rápido, mas você fez muita falta, ouviu? (primeira mentira)
4) Arrumou namorado (a)? nem um toureiro matador? INCOMPETENTE! (primeira ofensa)
5) Comprou muita coisa? Essa blusa é nova, deve ter comprado BARATÍSSIMO. ( fantasia histórica)
6) Parece que você engordou uns quilinhos, vai, conta logo, 7 ou 9 quilos? (tapa na cara)
7) Guardou algum dinheiro? Não? Tem que pagar IPTU, IPVA, IR, etc, etc, etc...Prepare-se porque seu salário está 40% defazado, inflação comendo solta, tá? (é a miséria iminente)
8) Estava frio? Você vai ver o calor dessa terra, não se respira mais.
9) Quando volta a trabalhar, já ficou muito tempo à toa, né? (punhal no peito)

Essas são apenas para começar.


Nisso aparece um infeliz que você não vê há anos, te abraça no meio da turma, que já te siderou e começa, na maior insensatez,  a fazer perguntas que fazem parte do segundo bloco. Lógico que não vou importunar os que estão lendo esse Blog e enumerar as perguntas que só começaram a proliferar.

Esse é o ponto da ambiguidade humana, se as pessoas são "over", despertam em você os mais puros ímpetos assassinos, se são indiferentes, depressão na certa.

Para evitar que a chegada de um seja seguida de outra imediata partida, até mesmo para o Além, as pessoas têm que se dar conta da delicadeza do momento. O viajante está fora do seu estado normal, entendam isso. Nada de abraços apertados e longos, nada de perguntas, nada de puxar para si a pessoa para uma conversinha particular nada a ver, nada de flores, nada de buzinas, sanfonas, pipoqueiros, fantasias, foguetes, lágrimas descontroladas, dramas, etc...


Aquele que chegou de uma viagem de 10 horas dentro de um avião, que passou por pavores nas turbulências sobre o Atlântico, que deixou para trás amigos que gostava, que está literalmente a um passo da morte, tem que ser tratado com piedade. Dê-lhe dois dias para por os pés na terra, ele terá o resto da vida, se sobreviver, para contar tudo que você precisa, precisa não, quer saber.


Já nos foi mandado um email com cópia para os que foram na despedida: "Viagem tranquila, chegada tensa, camisa rasgada, várias escoriações, almoço com 40 convidados, malas abertas por gente que nunca vi. É a derrota. Saudades eternas, de hoje não passo".

 

domingo, 5 de janeiro de 2014

ZONA DE CONFORTO






A grande guerra a ser enfrentada na vida é a busca da tal "zona de conforto". Essa expressão, quando cunhada, foi dedicada aos "perdedores na vida". Ninguém se deu conta dessa ironia e muitos passaram a usar essa dupla de palavras, como uma forma sofisticada de identificar e justificar a própria vida As pessoas que privilegiam a "zona de conforto", em geral, são criaturas pobres de espírito, que não evoluem e que costumam ser como as orquídeas: parasitas. Elas vivem da seiva de alguém, que por mais insuportável que seja, a contrapartida é a confortabilíssima "zona de conforto". Ela prescinde de atitude, de garra, de trabalho e tudo o mais, ela é a "zona de conforto" e assunto encerrado.

Existem várias "zonas de conforto" e elas aparecem em todas as situações na vida. Em primeiro lugar, há de banir para sempre a "zona de conforto" que não seja uma construção própria."Zona de conforto" do outro é prisão, ausência de liberdade, vida controlada. Isso vale para todos os relacionamentos ou situações. A autêntica "zona de conforto", não está exclusivamente na materialidade, aliás, reiterando, essa tem que ser garantida pelo próprio trabalho, ainda que para isso se viva franciscanamente. Poder se manter sem o suporte do outro, é uma carta de alforria que deve ser colocada em uma moldura e pendurada na porta de entrada da casa, é honrar a liberdade.

O outro aspecto vital na "zona de conforto" é a tranquilidade emocional. Após ter assegurada a independência ficanceira, há de se tratar das emocionais, fundamentais para a paz interior. Existem inúmeras "zonas de conforto" mentais. Nelas podemos navegar livremente, nelas temos a prerrogativa da privacidade total, ninguém entra, são zonas hermeticamente fechadas. Se si sente mal em uma delas, transporte-se  para outra rapidinho impedindo que um pensamento negativo priorize em seu psiquê. As "zonas de conforto" mentais são constituídas pela indestrutível força da memória. Nela podemos selecionar aquelas que nos leva ao lugar de uma felicidade pretérita. Pode ser a lembrança de alguém, de um tempo, de uma convivência, que se transformam aos pouco em uma saudade acalentadora da alma. 

Hoje, andando pelas ruas de Madri, dando cliques com os olhos para fotografar cada pedacinho da cidade, descobri que esse patrimônio que trago dentro de mim, poderia ser uma das minhas zonas de conforto doravante. Nunca senti saudades "a priori" de nada na vida. Estou sentindo saudades de Madri, estou inteiramente enfeitiçada pela cidade. Essa é uma sensação que desconhecia, mas sinto que tenho que sair dela. Por isso comecei a abrir fronteiras no meu pensamento para não estagnar nessa "zona de conforto", ela só é minha como empréstimo e com devolução datada. Parar nela seria gerar um sofrimento sem fim. Já enumerei mais de 10 "zonas de conforto" mentais e tenho que estar permanentemente em trânsito. Hoje estou em uma "zona de conforto" inesquecível. Amanhã passearei em outra ou outras.