segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vai entender...I


O mundo está virado de ponta à cabeça, ninguém fala mais a mesma língua, há de ser poliglota para entender até seu amigo de uma vida toda.
Cada dia está ficando mais complicado entender as pessoas através das palavras. Eu não sei bem qual é o problema, mas os diálogos tornam se cada vez mais incompreensíveis. As palavras têm sido usadas para fins que não lhes foram atribuídos. Cada palavra tem uma significado e pode ter vários mas o emprego delas tem que ser minimamente respeitado. O tal de “com isso eu quero dizer”, pode ser dispensado, a palavra para o mundo dos mortais tem que significar uma coisa só naquele contexto e não se discute. Quanto à sofisticação da retórica, seu uso deve se restringir a situações que têm a ver com o interlocutor. Mas no cotidiano batata é batata e não "má nota" senão a incompreensão é batata. Os diversos significados de algumas palavras é indiscutível , todavia há por parte de um certo tipo de pessoas, que tem se multiplicado, a crença de ter o status de erudito garantido falando “difícil”, ou usando têrmos que poucos entendem, e às vezes nem os próprios falastrões. Isso, no entanto, não importa, o quê realmente importa é que quanto mais simples fôrem as palavras e claras fôrem as frases, mais rápido a gente fica livre de conversar com os outros e das incansáveis explicações do significado que cada um escolhe para “suas” palavras. Não poucas vêzes as frases são tão truncadas que a resposta ao pedido de uma melhor explicação é uma outra ignomínia do tipo “você entendeu, né?” Não, não entendí e se entendí foi do meu jeito, amanhã passo a estória prá frente, o que é um hábito do qual muito me orgulho, e o outro afirma que estou inventando. Venho sofrendo muitas injustiças pelo uso indevido da palavra, dos outros.
Até para se orientar sobre os estabelecimentos que comercializam um determinado tipo de mercadoria, não podemos mais confiar nos nomes das lojas, que em geral, não têm nada a ver com o produto em questão. Por exemplo, Chicletes com Banana não é sacolão, é loja de roupas. Topa tudo, não é rendez-vous, é loja de móveis usados. Doce Docê, não é da gente, tem dono, e se você pegar alguma coisa sem pagar, cana, que também não é de açucar. Sabor de Mel não é um apiário e sim uma invenção moderna, comida a quilo, todo mundo sabe quantos quilos você come por refeição, uma exposição pública da esganação humana. Na Galinha Ruiva nunca encontrará ovos, só pães. Red Lips não é loja de cosméticos, mas de sapatos. Comprar disco barato em Belo Horizonte é na Sem Nome, roupa de gordo na Varca, Fofão é uma casa de lanches, comer lá significa que em pouco tempo será conhecido pelo nome do estabelecimento. Não procure uma partitura musical na Alegretto, lá encontrará bijuterias. Não podemos esquecer dos grandes monarcas, Rei do Pé de Porco, Rei dos Calçados, Rei do Tic-Tac (relojoaria) e vai por aí. Espero que não apareça em breve O Rei Vesgo para eu poder marcar uma hora com o oftalmologista.
As situações se complicam porquê se um cara de shorts e tênis te pergunta onde é o Mineirão (supermercado de Belô), você tem que perguntar o que êle realmente procura, caso contrário, a informação será errada. O cara queria comprar arroz e feijão e você o manda para o estádio de futebol, sacanagem.
Outra coisa interessante é observar o nome das marcas de certos produtos em supermercados. Uma vez perguntei a uma amiga na padaria se ela ía de Seven Boys e ela me respondeu, vou, mas um de cada vez. O marido perguntou à mulher se ela queria um “Bis” e a assanhada já queria saber se era ali mesmo. Até hoje nínguem descobriu porque um certo sabão em pó foi chamado de Omo quando essa palavra significa prematuro, isso sem contar o da marca Minerva que de deusa da sabedoria virou branqueador de roupa encardida. Os absurdos continuam e se proliferam. Adoro as marcas dos secos e dos não secos, tem a farinha de trigo Boa sorte, o fubá Mimoso, o polvilho gay, Marinez, o santo arroz São Jõao, a ervilha Jurema e o leite condensado que é Moça há um século, isso é uma sorte verdadeira. Nada disto teria importância se ao longo do tempo os produtos não passassem a ser identificados com as marcas, e é por isso que os desavisados ficam atônitos quando escutam duas donas de casa conversando. Pois é, ontem bati um bolo com Boa Sorte depois de lavar a cozinha com Minerva porque o Omo está muito caro, comi 3 Bis, 2 Seven Boys e temperei a salada para o jantar com o Gallo porque a Andorinha voou. Pelo amor de Deus, já pensaram que luta tirar azeite de um galo ou de uma andorinha? E ordenhar uma moça para ela dar leite doce e cremoso por toda a vida? Isso só pode ser malvadeza.
E as oficinas? Há uma proliferação delas. Temos a Oficina do Pão, a Oficina de Música, a Oficina dos Calçados, a Oficina das Meias, a Oficina dos Móveis, a Oficina das Trufas, a Oficina da Pizza, a Oficina do Cabelo, a Oficina do Pezão, até anjo virou artigo de oficina, visite a Oficina dos Anjos, é muito linda, só tem anjo trabalhando, de asa e tudo. Brevemente vão inaugurar a uma casa funerária com o sugestivo nome de Oficina dos Defuntos e uma outra mais original ainda, Defunto e CIA ou Rígido e Calado, é patético, mas verdadeiro, Parafuso e Cia, será o prego?

E lá vou eu….Alguém há de ser normal. Amanhã escrevo mais, se tempo tiver.

3 comentários:

  1. O drama da palavra é a fonte mesmo de seu fascínio... por isso se vence a falta de tempo, e se escreve. No seu caso, lindamente.
    bjs.

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  2. kkkkkkkkkkkk é mesmo! A pior de todas é VARCA. Que gordo quer entrar nessa loja?!
    Há uma pesquisa canadense que foi feita com os nomes listados no catálogo telefônico e perceberam que a maioria dos nomes não tem nada a ver com a especialidade do lugar.

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