quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MATARAM GARCIA LORCA














"Verde que te quero verde"
                             

Estudando profundamente a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), sinto-me a cada dia mais apaixonada pelo tema. A guerra em si eu não compreendo, assim como Virgínia Wolff, acho que a guerra é uma decisão de homens e não de mulheres. Essa guerra fratricida criou uma fissura indelével na sociedade espanhola.



Os espanhóis acham, que com o passar dos anos, só se falará da década de 30 como história. Será? Ainda hoje fossas são encontradas repletas  dos esqueletos de homens que lutaram pela liberdade democrática, mas que a inexperiência para governar a nova República, inaugurada em 1931, frente à força do exército franquista, formado desde o Marrocos, foi incapaz de resistir.


Resistiram durante 3 anos, resistiram sem exército, sem apoio das potências democráticas, EUA, Inglaterra e França ( essa última foi menos radical, vendendo armas às escondidas para os Republicanos).



Foram heróis, lutaram com exércitos de milicianos que não conheciam a guerra e menos ainda as estratégias modernas para encarar os alemães e italianos, que vieram à ajuda de Franco. Stalin  ajudou os Republicanos, as Brigadas Estrangeiras tiveram um papel importante, mas há de se estudar com detalhes para entender que ali também, enquanto milhares de pessoas morriam assassinadas, as dissensões internas entre os republicanos e a briga de Stalin com Trotsky criaram cisões dentro do bando que defendia a República. A República foi vencida, mas os vencedores levaram, mas não ganharam. Os espanhóis podem esquecer, mas perdoar, jamais.



Depois de estudar exaustivamente o tema, sinto que falta muito, muitíssimo para entender uma guerra onde há irmãos dos dois lados das fronteiras. Como afirmou o General De Gaulle, " em guerras em que há irmãos lutando contra irmãos, a guerra acaba, mas a paz não chega". É verdade.





O que me tortura durante essa pesquisa, é que a cada dia percebo que a maldade humana pode se potencializar a qualquer momento e ela não vem para brincar. Só para falar um pouco de forma não acadêmica, o bando franquista matou o grande poeta e dramaturgo granadino Frederico Garcia Lorca aos 34 anos. Choro quando penso nisso, choro quando penso que alguém pode fazer um mal irreparável a alguém que tem a capacidade de escrever:



O ROMANCE SONÁMBULO   (só trancrevi uma parte)




Verde que te quiero verde.




"Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas".      



(Sublime, é o que se pode dizer de Lorca)

Quando Lorca foi assassinado, a comoção foi ímpar nesse país. No entanto, o terror à repressão franquista silenciou a Espanha, por muitas décadas. Antonio Machado,
 um dos maiores poetas  espanhóis do século XX, foi uma voz que não se submeteu às armas. Com pluma e a alma em luto nos deixou essa outra maravilha:



EL CRIMEN FUE EN GRANADA: A FEDERICO GARCÍA LORCA



1. El crimen



Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
—sangre en la frente y plomo en las entrañas—
... Que fue en Granada el crimen
sabed —¡pobre Granada!—, en su Granada.








2. El poeta y la muerte





Se le vio caminar solo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
—Ya el sol en torre y torre, los martillos
en yunque— yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
«Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!»



3.

Se le vio caminar...
Labrad, amigos,
de piedra y sueño en el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!


autógrafo

Se alguém  colocar  dúvidas nessas maravilhas, que nunca mais visualize esse BLOG.
Nota: procurem saber sobre a obra de Frederico Garcia Lorca, o poeta de Granada.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O ÓCIO SEM CULPA






Hoje passando em revista o meu dia, fiquei encantada comigo, sou capaz de não fazer nadinha e ser feliz.. Não fiz nada, mas ensaiei tudo. Levantei, troquei de roupa para descer para o café da manhã, não fui. Liguei o computador para escrever o artigo que tem me mortificado, nem uma linha saiu. Coloquei uma roupa para dar uma caminhada, mas encontrei uma mocinha belga no corredor que entendeu de me contar uma história, não dei a caminhada. Tomei banho para descer na hora do almoço, não desci, fiquei lendo o livro " Memórias da Casa Morta", de Dostoievsky. Comi uma maçã, não achei a menor graça, mas comi. Comecei a ouvir música, ela me tratou de canto chorado. Pensei nas novelas da Globo, fiquei saudosa do Tufão. Deitei na cama de roupa e tudo, dormi por uma hora, dormi não, morri. Acordei pensando no meu aniversário em fevereiro, queria dar uma festa para mil pessoas, uma festa linda. Queria fazer aniversário duas vezes ao ano, adoro. Eu iria vestida de dourado, uma luz irradiando felicidade. Pensei no carnaval e no grito das escolas de Samba, chorei. Tem gente que odeia Carnaval, incompreensível, mas há. Comi um chocolate, delícia. Dizem que engorda, pouco importa, comi assim mesmo com a maior alegria. Pensava com tanta velocidade que cheguei a pensar que tinha 2 cérebros. Pensei em minha mãe, sim essa é uma presença que nem a erosão do tempo, nem as falhas da memória podem alterar.Pensei em minha meninas, elas nunca me verão de costas, estarei sempre que precisarem de mim. Coloquei roupas de lã para passear nas lojas e comprar coisinhas inúteis, não fui. Abri uma Coca e tomei, ela desceu cantando o Hino Nacional. Lembrei de uma porção de coisas que já escutei na vida e conclui que nem todas as palavras dos outros passam do desenho de seus lábios, para calar fundo no coração do outro, grande perda! Olhei as fotos das minhas meninas, senti dor no peito, olhei fotos de meus netos, senti dor no peito, olhei uma foto de minha mãe, mais dor no peito. Tomei outro banho, foi ótimo, um certo exagero. Telefonei para minha amiga Rachel, gosto muito dela. Liguei a televisão e vi a novela, adoro.
Recebi um email da professora que me recebeu aqui, amanhã irei à Universidade.

Hoje foi o dia dedicado, sem nenhum preparo prévio, ao ócio. Felicidade autêntica. Nem uma notícia ruim, nem fui destinatária de um telegrama urgente, graças a Deus. Agora vou dormir com a certeza do dever cumprido. Se fosse compositora de música, o título seria: " Essa é por mim ". Agora vou deitar, pensando no Mandela, no meu interior me vem a letra da música:  "Ah se todos fossem iguais a você". Impossível. Salve Mandela!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O MITO DO LENHADOR











Criar um mito parece difícil? Não é. O mito é uma construção do homem. Como sempre, mitificar supõe falsificar. Os mitos são inquestionáveis. Eles habitam em um lugar privilegiado no universo mental das pessoas que para derrubá-los, nem o exército de Brancaleone.

A história é um dos terrenos mais férteis para a fecundação de mitos e sua subsequente imortalidade. Queiramos ou não, o mito transcende o escopo da ação do homem e isso o torna inacessível, inatingível. É notável a capacidade da memória humana em armazenar mitos absurdos e ainda reproduzi-los por séculos. Não seria uma ignomínia afirmar que a crença no mito, produz um efeito paralisante na mente. As pessoas o internalizam como cânone e o alojam em algum lugar impenetrável pela razão. Assim, ele impera soberano para sempre, favorecendo alguns e amargando a vida de outros. Esse é o lado complexo de sua existência. Há algum tempo desconstruí todos mitos que me atormentavam a alma. Dessa enfermidade já estou curada.



O fato é que esses prolegómenos só foram sinteticamente escritos para introduzir meu tema: sem ter a intenção criei um mito: o mito do lenhador. Conto a história tal qual aconteceu e fica à cargo do leitor a constatação ou não da inviabilidade do entendimento entre os homens. Só para não dar margem a outros mitos, estou querendo dizer sobre a inviabilidade do entendimento entre Homens, independente do gênero.


Um dia, cheguei à universidade e um estudante veio a mim afobado, dizia que minha aula foi amplamente discutida na aula de um outro professor. Perguntei-lhe a razão e ele me explicou que o outro professor não conhecia o "mito do lenhador", tão bem explicado por mim. Reproduzirei o diálogo.


- Eu nunca ouvi falar em mito do lenhador, de onde você tirou essa ideia?
- Falou sim professora, na aula sobre a vocação agrária da América Latina.
- Lamento meu caro, mas tenho certeza que disso também não falei, eu dou aula sobre o período colonial da América Espanhola e até há três dias atrás, quando preparei essa aula, a qual você se refere,  ainda não tinha nenhuma tese que ao menos sugerisse um projeto industrializante para a América. Ademais, a Revolução Industrial começou no século XVIII e a América ainda era uma colônia sem nenhuma possibilidade de promover um desenvolvimento nesse setor.


-Olha, Campolina você dá aula e depois esquece, eu tenho testemunhas, todos da sala ouviram quando você falou do "mito do lenhador" e hoje quando fui usar essa mesma teoria no curso de História da África, o professor ficou horrorizado com o absurdo que você inventou.
-Eu? Não meu caro, quem inventou isso foi você, argumentei. 



Nesse momento, percebi que tinha que encerrar a discussão, era uma saraivada de impropérios que o rapaz falava sem me dar um segundo de trégua. Ficou meio possuído pelo ódio por eu me furtar à autoria do mais recente mito da mitologia agrária. Comecei a ficar apreensiva com um copo de refrigerante que ele trazia trêmulo à mão. A qualquer momento aquilo ia parar na minha cara, inventei uma desculpa e sai.

Chegando no quarto andar, encontro com o tal professor e ele, com cara de sábio, me interpelou como se estivesse conversando com um membro de sua própria família: " que raio de "mito do lenhador" é esse que você inventou?" Respondi prontamente:" e você não sabe? Sem dominar o  'mito do lenhador', você não explica os países do Terceiro Mundo". Estupefato, ele me olhou e se retirou em seguida tomado do mesmo temor que eu tive em relação ao estudante. Eu também estava com um copo de Coca na mão, quisera estar com um copo de ácido, o alvo estava a um metro de mim.


Voltando para casa, dentro do meu carro, local onde meu pensamento flui no compasso do trânsito, lembrei de uma frase que tinha falado na sala. "É pessoal, estudar a economia da América Colonial, é uma tarefa hercúlea dado às diferenças e singularidades das várias regiões do continente, melhor seria rachar lenha o dia todo, voltar para casa à noite e dormir tranquilamente". Eis a origem do "mito do lenhador".





Minha única preocupação é cair nas mãos de um médico que preste atenção nas aulas como esse estudante, aliás, um ótimo aluno, afirmam meus colegas.




quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A INÉRCIA DO SENSO COMUM





Há cenas na vida que tenho minhas dúvidas se algum dias elas já aconteceram ou se voltarão a acontecer. Acho que existem cenas únicas e eu fui testemunha de uma. Certas agressões físicas não acontecem porque as pessoas não têm coragem de aviltar ou ir contra o senso comum da sociedade em que vivem. Nunca vi ninguém gritar dentro de uma igreja, quando o padre está pedindo dinheiro para as obras sociais,  que ele é um salafrário e que devia trabalhar a pedir esmola para os paroquianos. Bem, na verdade, os párocos são protegidos pelos fiéis e enquanto isso vão vivendo à custa desses crentes e devotos. Nunca vi ninguém dar um show dentro de um banco ou supermercado quando os caixas enrolam, ao invés de atender ao cliente com a rapidez que a vida moderna demanda. Esses são exemplos banais e sem importância perto das barbaridades que vemos na rua, em casa, no trabalho, no governo, e nos omitimos, preferimos não mostrar a cara.

Em geral, o que acontece é curioso. As pessoas que se envolvem em situações que "não têm nada com isso" são execradas por todos, às vezes, até pelas vítimas de injustiças, exploração, etc... Somos cordeiros, somos covardes, apáticos e o pior, cegos. Parece que tudo que temos como cidadãos, nos foi outorgado pelo Estado ou que caiu do céu, um presente. Quanta ignorância! Houve muita gente que lutou, que foi à rua, que pegou em armas, que protestou e deu a própria vida para que a grande gama de silenciosos usufruísse dos ganhos.

Hoje morreu Nelson Mandela. A África do Sul chora e chora muito. Esse homem passou 27 anos de sua vida na cadeia, lutou  pela igualdade. Esse homem não foi um homem comum, foi um homem da estirpe de Las Casas, de Bolívar, de San Martin, de Gandhi, de Luther king, de Malcom X, de Guevara  e de muitos e muitos outros que cortaram a própria carne pela justiça, pela paz, pela igualdade, pela liberdade. Esses muitos e muitos outros não são nada perto dos bilhões de pessoas, que habitaram e habitam nesse planeta. A grande maioria desses bilhões é nada. Somos nada.

Eu tenho vergonha, se tivesse que encarar um desses super homens, não teria coragem, cairia de joelhos e pediria perdão, perdão cínico, perdão por inoperância social. Pediria perdão também aos médicos sem fronteira, aos bombeiros, aos salva-vidas, aos que trabalham pelo Outro, meu Deus, que vergonha. Que pessoa inútil eu sou e para os que assumem, que somos.

Hoje morreu Nelson Mandela e eu vi uma agressão ao senso comum, aparentemente simples, mas extremamente expressiva. A justiça foi feita com as próprias mãos.

Estava um Papai Noel em frente de uma loja de brinquedos, carregando uma saco de presente nas costas. Perto dele tinha um rapaz inteiramente alterado, xingando o "bom velhinho", sem o menor constrangimento. Papai Noel não respondia aos insultos que aumentavam em virulência e volume. O moço gritava com a voz embargada pelo ódio: "você, seu canalha, é um mentiroso, um analfabeto, nunca leu minhas cartas, nunca trouxe um presente para mim, nem para uma porção de gente que eu conheço. Eu te odeio Papai Noel. Eu tenho ganas de te matar todos os anos. A quem você dá presentes?  Você sempre me enganou e eu te esperei por vários anos. Você é injusto e mau.  Você não tem vergonha, seu infame, pífio, vil, ordinário e muitas outras palavras irrepetíveis. Papai Noel imóvel. Papai Noel, responda-me, meus pais também foram seus cúmplices? Sem resposta. Você é a criatura mais discriminadora que o sol cobre sobre a terra. Você é uma fraude Papai Noel.

Quando o golpe lhe foi desferido no meio da cara bochechuda, Papai Noel caiu no chão inerte, morto. O saco de presentes abriu e ali só se via caixas vazias e papel amassado. Os transeuntes passavam e olhavam para o "louco" com repugnância, os empregados da loja carregavam o Papai Noel para atirá-lo ao lixo, os donos da loja explicavam que aquele Papai Noel também era de mentira. O rapaz saiu andando a procura de outro Papai Noel, ele ainda queria uma resposta.










segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O LOUCO DA PRAÇA








Quem não conhece a figura caricatural do louco da praça? Até as crianças se sentem familiarizadas com aquele indivíduo, tido como um alienado mental, que se diz o dono da praça..."a praça é minha". Um dia recebi um texto de Danielzinho, meu amor, no qual ele relembrava o rio que marcou sua infância, o rio era dele. Esse é o ingrediente mais marcante do louco da praça, não é o caso de Danielzinho, mas é o caso de todos nós que nos sentimos proprietários da coisa pública, de cidades, de rios, de montanhas, de praias e sabe Deus o que mais.

Sinto que o escopo desse sentimento é infinito e irracional, podemos amar um lugar ao ponto de sentir ciúmes verdadeiros de qualquer um que por lá passe, olhe ou sinta o mesmo amor. Disputa inútil mas real. Eu tenho minhas propriedades que não gosto de compartilhar nem de brincadeira, aliás tenho ódio que alguém mencione o nome do lugar. Isso eu chamo de insanidade mental à moda do louco da praça. O pior é que são vários lugares e até mesmo situações corriqueiras que penso serem só minhas e atuo pela vida com esta certeza.

O Museu Histórico Abílio Barreto é meu. A rua Bernardo Mascarenhas é minha. Buenos Aires foi minha, quando alguém me falava da cidade, ficava nervosa, a cidade já tinha dona e ali estava um usurpador de cidades, isso eu não podia suportar.

Agora que estou há quase 10 meses em Madri, descobri que minha técnica para desapegar de tudo funcionou perfeitamente. Madri nunca sairá de minha memória, sei que todos os dias de minha vida algum fato me trará novamente a essa cidade, que tão bem me tem acolhido. Mas Madrid, como escrevem os espanhóis, não é minha, nem um pedacinho dessa cidade é meu. Eu não quero mais nada, imagine querer uma cidade? É chegar à loucura do "louco da praça".

A única coisa que sou dona absoluta, sem sócios ou coisa que o valha, é o meu pensamento, mas aquele que não divido com absolutamente ninguém. O pensamento é o único lugar onde o homem pode gozar da verdadeira liberdade.  Graças a Deus.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Madrigal Melancólico (Foram 20 minutos depois)

Lembrei-me ontem de uma amiga que encontrei há anos na rua e perguntei-lhe sobre o marido. Secamente ela me respondeu: separamos. Porque? Ela disse: porque eu deveria ter saído daquele casamento 20 minutos antes e estupidamente sai 20 minutos depois. Essa é uma coisa que sempre trago em mente, é uma ideia que me obstina. Porque a gente se deixa passar um segundo a mais na vida ao lado de determinadas pessoas (amigos e familiares entram nessa, mas no caso, o forte são os homens), quando poderíamos  ter saído 20 minutos antes?

Por coincidência recebi hoje uma poesia e cheguei a conclusão que só vale a pena ficar ao lado de alguém, se ela representar para a gente o que diz cada verso dessa poesia. Como sabemos, só se vive uma vez. Porque desperdiçar a própria vida, estando ao lado de alguém que não mereceria um simples aceno de nossa parte? O tempo não volta, esse maldito. Mas se voltasse, tenho certeza que todos os reparos seriam feitos nesse lugar, das relações humanas.

Madrigal Melancólico

Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
 
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
 
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.