sábado, 23 de novembro de 2013

Memórias

Eu queria escrever  muitas coisas, contar todas as minhas aventuras e esterilizar todas as recordações, as que já são e as que virão. Sinto saudades do Brasil, de BH, de muitas pessoas, inúmeras. Ficar um tempo fora do país é muito difícil, mas voltar é muito pior, não há glamour. O tempo para no dia da partida, mas para apenas para os que partem. A memória é uma faculdade mental imprescindível, mas cheia de caprichos, de idas e vindas. Ela se apresenta sem ser chamada. Como escreveu sabiamente Montaigne, " nada se imprime de um modo tão vivo em nossa mente como aquilo que desejamos esquecer".

Hoje estava ouvindo David Bowie e meus pensamentos viajaram para o passado, fui à Urbana, de onde sai em 1991. O coração me bateu como o dobre de finados, ouvia "Dancing in the street", amava essa música, mas ela podia ter ficado lá, minha tarde foi perdida. A memória às vezes é abusada, atrevida. Todorov escreveu: "ter sido vítima abre à pessoa uma linha de crédito inesgotável". Mentira, esse é um crédito ficcional, não há créditos para os infortúnios que podem ser inúmeros, há de siderar a parte triste do passado e buscar  alegria no simples fato de ser o que é. Esse é o autêntico rosto da vida.

O pensamento falava devagar como água caindo, gota a gota, olhava minha cara no espelho, notei que ele não tinha páginas, sou tal e qual sempre fui. Foi quando me dei conta que se as sombras caminham, porque não havia eu de caminhar também? Foi quando me dei conta com clareza que sou a timoneira de minha barca, em parte, no mais sigo o fluxo do meu destino. Ele é marcado por algumas tristezas indeléveis, e o pior, com regras do jogo incompreensíveis, mas necessárias, pois vivemos com adversários e nem sempre percebemos isso. Qual riso posso dar perante tal constatação? Um riso filosófico, nada mais. Quem respeitou algum dia essas regras ou se deu conta que se as respeitasse seria um ser humano melhor? Conheço algumas pessoas que as respeitaram, aliás, muitas.

Vou voltar a escrever, que seja uma frase por dia. A de hoje é: para que oxidar a vida se ela se oxida por si? Sempre falei às pessoas: preste atenção e eu não prestei, Vou voltar para BH e encontrar uma outra cidade, outras pessoas, não aquelas que estão em minha memória, paralisadas. A BH transformada pelo tempo, isso só nota quem saiu e voltou, ainda que por pequeno tempo. Mas é um tempo que se pode gerar, gestar e ter um filho, uma nova vida. O fenômeno está no poder indiscutível da realidade, ela, só ela tem a força de se impor, atuando para o Bem e para o Mal. Por isso é que uns dizem que a salvação ou o livramento da realidade pode ser o suicídio, o alcoolismo ou a loucura permanente, sem volta. Que trágico! Risos. O esquecimento é a melhor saída, eu acho.

Enfim, a compensação pelo peso de começar um tempo novo, é que esse tempo  está desintoxicado do passado. Talvez nada tenha mudado, só eu.

2 comentários:

  1. Uma coisa é fato: quem sai muda muito mais do que aqueles que ficam. Você vai estranhar o retorno. Mas não vejo a hora de tê-la de volta. Aliás, tê-la de volta ao blog já é um presente. Beijos

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  2. Que bom poder ler seus textos novamente. Estou com saudades. Rachel Marotta

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