quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

FLAUBERT E O BOLERO DE RAVEL



O primeiro acorde é o sinal daquilo que só algumas almas entendem. Não são almas comuns, são almas em sintonia. A sintonia em que o amor é engenheiro e construtor. Poucos no mundo conhecem essa magia. Só a música empresta a ela a sensualidade que os corpos materializam silenciosamente. O trotar dos cavalos descendo pelas ruas que ladeavam a Catedral de Notre Dame, descritas por Flaubert, entoavam e davam vida aquilo que as laterais da carruagem tinham a exclusividade de testemunhar.

Os amantes sempre precisam de algo mais que os próprios corpos. Ravel o fez. Talvez e provavelmente, ele não sabia que aquele Bolero, menos de um século depois de Flaubert, poderia substituir o trotar dos cavalos. O Bolero seria a expressão musical, cadenciada pelos movimentos, que com mais ou menos ardor, Madame Bovary, movida pela loucura da paixão, desafiou a sociedade francesa em nome do que lhe era mais caro: o exercício do amor total. Enquanto o Bolero aumenta o tom e cresce como se almejasse o infinito, o ballet bailado e sublimado, se blindado pelo amor verdadeiro, também aumenta na simbiose que torna dois seres em um só e assim permanecem clamando pela eternidade. O amor sem amor é subutilizar as possibilidades de entrar em consonância com a música e conhecer o Nirvana.

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