
Só de ouvir falar a palavra corno as pessoas arrepiam de medo, é o mesmo que a morte anunciada. Essa é daquelas palavras que entre o significado e o significante não há espaço para pensar, é só dor no peito. Não existe esse que nunca levou um corno daqueles bem estruturados que a única saída nobre é a rigidez sepulcral. Bem, se não levou, só não levou ainda, espere...é uma questão exclusivamente de tempo, ou melhor, falta de tempo do outro. Sabem aquele cara imbecil de carteirinha, tímido escarlate de vergonha, meio estrábico, cabelo oleoso, ignorante juramentado, pobre de dar dó, andar arrastado e papo fraco, é o maior corneador da cidade. E a mocinha faceira, andar de libélula, sorriso adocicado, corpo traçado à régua e compasso, cabelos longos e dourados, pele aveludada, voz de abajour lilás, olhar colorido, herdeira rica e filha única, é a maior "corno" da cidade. Vá entender um despropósito desses, aliás nem queira, isso é um dogma, aceite e assunto encerrado.
Há uns incautos que se metem a teorizar a razão do corno. Tarefa sem sucesso. Corneia-se por qualquer razão, os homens pela simples necessidade de ejacular a êsmo, uma bobagem, e as mulheres...essas sim, corneiam "por amor". Amor de perdição, amor bandido, sofrimento atroz. Depois do "crime" passam a vida expiando a culpa horrível de ter traído o marido e os princípios cristãos. Diferente dos homens que traem e saem felizes com o grande feito, as mulheres se auto-flagelam, são capazes de cortar a própria carne para se livrarem do cancro da culpa. Mentira universal. Mulher trai porque trai e se reveste o 'pecado' com a retórica do amor é só para não trair também a estratégia mental dos ardis femininos.
A arte de cornear está entre as artes mais desprovidas de qualquer dom inato. Até a genética mais rasteira traz intacto o gene do corno. Esse sobrevive de Adão a nossos dias, um fenômeno verdadeiro. E assim caminha a humanidade, é corno para todo lado e a consequente dor de corno sem remédio, uma tragédia geral. Esse é o maior atraso da medicina. Aquele que descobrisse uma vacina para esse mal epidêmico (ser o corno, porque cornear é um deleite ímpar) colocaria Bill Gates no bolso. Sei de gente que tomaria logo uma dose dupla para não padecer dessa dor que torna a vida impossível por um tempo. Sim, é por um tempo mesmo. Ela passa e não deixa saudades, nem lembranças.
Tenho um amigo que resolveu cortar esse mal pela raiz. Diz ele que suporta a fome e o frio, mas um corno jamais, esse o levaria à morte, morte súbita. Para sobreviver nesse mundo de corneadores profissionais, ele dispara aos gritos para a moça no segundo encontro:"corneia logo filha da mãe, livra-me dessa expectativa maldita". A moça assustada some de vez sem o tempo hábil para cornear o incorneável. Hoje ele tem registrado em cartório dois mil e quinhentos namoros de dois dias de duração. Segundo sua teoria é melhor levar para a cripta gélida as desditas da vida, a cornos históricos e imerecidos. O único namoro que durou uma semana ele corneou a moça com a faxineira do prédio. Regra é regra e nada de fugir a elas. Corneia logo!!!!!!!!!!!!!E estamos conversados.
A máxima é: "quem nunca levou um corno que atire a primeira pedra".