domingo, 13 de dezembro de 2009

Dor que mata: a injustiça



Há 30 anos dando aulas, há 30 anos estudando a história da América Colonial, do Peronismo e da Guerra Civil Espanhola. Injustiça. A história é a história da injustiça do homem. Trago a alma exaurida dessas leituras depressivas que reiteram a minha concepção negativa da humanidade. Quanta guerra, quanta morte, quanto ódio, quanta injustiça. É a marca humana que comporta paradoxos como guerra e paz, amor e ódio e o pecado e o perdão. Por paixão política e fidelidade à ideologias de direita e também de esquerda os homens cometem ignomínias desprezíveis que inequivocadamente, a pátina do tempo as transforma em história. O holocausto virou história, tema batido, ouvi isso há pouco tempo.

No final do semestre letivo tenho a mente povoada de escravos torturados, de índios desgraçados, de padres mais ligados à matéria que ao espírito (há exceções notáveis), de discursos e práticas políticas que se incompatibilizam, de Inquisição, de fascistas, de assassinatos de guerra, de ditaduras hediondas, de crimes em nome da tradição cristã e isso é só para começar. Aulas, simplesmente aulas, sem emoção, sem ódio, sem paixão. Aulas inodoras, anódinas.

Meu maior prazer: a inversão. Não obstante o escopo e intensidade da injustiça ela não passa desapercebida, não tem um fim em si mesma. O poder aparentemente concentrado nas mãos de alguns é a grande falácia histórica. Os homens vingam e essa vingança que aparece nas inversão do papéis não é má, é imprescindível para se acreditar que não está tudo perdido. É a vingança silenciosa do escravo que quebra todos os brotos da cana recém-plantada, é o índio oferecendo sacrifícios veladamente aos seus deuses, é Tarantino na história/ficção em Bastardos Inglórios, é Dogville, é o ladrão roubado, o perseguidor perseguido, o assassino torturado, enfim o momento do êxtase maior, a virada do jogo. É não esquecer, mas se esquecer, não perdoar e se perdoar, não reconciliar. A injustiça inspirou Castro Alves: "Colombo! Fecha a porta de seus mares!". Ah se fosse possível reverter o tempo e impedir que feras viessem ao mundo em forma de homens.

Um comentário:

  1. O mais deprimente de tudo isso é que, como dizia Freud (e outros tantos pensadores) a crueldade reside na essência humana.Para ele, a guerra nada mais representava que o ponto culminante em que não era mais possível aos princípios civilizatórios suprimir os impulsos instintuais inatos dos homens. A agressividade, que é um destes instintos naturais, veio a lume canalizada na brutalidade dos indivíduos considerados civilizados. O que vemos é barbárie e mais nada...

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