terça-feira, 8 de dezembro de 2009

E não se sabia de nada: elogio à ignorância





Abençoados sejam os ignorantes,a eles está assegurada a felicidade na terra. Será isso uma verdade? Acho que sim. É a dádiva de não saber, de nada conhecer, de não ser alfabetizado, de viver para sobreviver, de não prever o óbvio, de não saber que não sabe, de não compreender às palavras, de não perceber às ironias, de rir onde deveria chorar, de não ter auto-crítica, de jamais ter ouvido falar em auto-estima, de não se dar conta do desrespeito do outro, de ser mal informado sobre tudo, de passar pelo mundo na cegueira absoluta, de não ter domicílio fixo e ser como dizia Da Vinci "um simples condutor de alimentos".

A ignorância é como a pátria, aliás é a própria pátria. Ela garante a liberdade, a liberdade de viver sem saber de nada. O ignorante teve o prêmio de ser liberado de sua condição intelectual e é nessa fortuna que desenvolveu sua virtude maior, a de não perceber a si próprio. Essa é a sutileza da graça divina, ser salvo da danação pela protetora maior: a Santa Ignorância.


Não foi por nada que em uma carta à Mlle. Leroyer de Chantepie em setembro de 1858 Flaubert escreveu sublimemente: "O único meio de suportar a existência é despojar-se na literatura como numa orgia perpétua."

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