domingo, 1 de dezembro de 2013

Madrigal Melancólico (Foram 20 minutos depois)

Lembrei-me ontem de uma amiga que encontrei há anos na rua e perguntei-lhe sobre o marido. Secamente ela me respondeu: separamos. Porque? Ela disse: porque eu deveria ter saído daquele casamento 20 minutos antes e estupidamente sai 20 minutos depois. Essa é uma coisa que sempre trago em mente, é uma ideia que me obstina. Porque a gente se deixa passar um segundo a mais na vida ao lado de determinadas pessoas (amigos e familiares entram nessa, mas no caso, o forte são os homens), quando poderíamos  ter saído 20 minutos antes?

Por coincidência recebi hoje uma poesia e cheguei a conclusão que só vale a pena ficar ao lado de alguém, se ela representar para a gente o que diz cada verso dessa poesia. Como sabemos, só se vive uma vez. Porque desperdiçar a própria vida, estando ao lado de alguém que não mereceria um simples aceno de nossa parte? O tempo não volta, esse maldito. Mas se voltasse, tenho certeza que todos os reparos seriam feitos nesse lugar, das relações humanas.

Madrigal Melancólico

Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
 
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.
 
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
 
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

Um comentário:

  1. Ah... Que lindo! Só você mesmo p'ra captar a beleza nos seus mais variados meandros e nos apresentá-la graciosamente! Beijos

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