terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O ÓCIO SEM CULPA






Hoje passando em revista o meu dia, fiquei encantada comigo, sou capaz de não fazer nadinha e ser feliz.. Não fiz nada, mas ensaiei tudo. Levantei, troquei de roupa para descer para o café da manhã, não fui. Liguei o computador para escrever o artigo que tem me mortificado, nem uma linha saiu. Coloquei uma roupa para dar uma caminhada, mas encontrei uma mocinha belga no corredor que entendeu de me contar uma história, não dei a caminhada. Tomei banho para descer na hora do almoço, não desci, fiquei lendo o livro " Memórias da Casa Morta", de Dostoievsky. Comi uma maçã, não achei a menor graça, mas comi. Comecei a ouvir música, ela me tratou de canto chorado. Pensei nas novelas da Globo, fiquei saudosa do Tufão. Deitei na cama de roupa e tudo, dormi por uma hora, dormi não, morri. Acordei pensando no meu aniversário em fevereiro, queria dar uma festa para mil pessoas, uma festa linda. Queria fazer aniversário duas vezes ao ano, adoro. Eu iria vestida de dourado, uma luz irradiando felicidade. Pensei no carnaval e no grito das escolas de Samba, chorei. Tem gente que odeia Carnaval, incompreensível, mas há. Comi um chocolate, delícia. Dizem que engorda, pouco importa, comi assim mesmo com a maior alegria. Pensava com tanta velocidade que cheguei a pensar que tinha 2 cérebros. Pensei em minha mãe, sim essa é uma presença que nem a erosão do tempo, nem as falhas da memória podem alterar.Pensei em minha meninas, elas nunca me verão de costas, estarei sempre que precisarem de mim. Coloquei roupas de lã para passear nas lojas e comprar coisinhas inúteis, não fui. Abri uma Coca e tomei, ela desceu cantando o Hino Nacional. Lembrei de uma porção de coisas que já escutei na vida e conclui que nem todas as palavras dos outros passam do desenho de seus lábios, para calar fundo no coração do outro, grande perda! Olhei as fotos das minhas meninas, senti dor no peito, olhei fotos de meus netos, senti dor no peito, olhei uma foto de minha mãe, mais dor no peito. Tomei outro banho, foi ótimo, um certo exagero. Telefonei para minha amiga Rachel, gosto muito dela. Liguei a televisão e vi a novela, adoro.
Recebi um email da professora que me recebeu aqui, amanhã irei à Universidade.

Hoje foi o dia dedicado, sem nenhum preparo prévio, ao ócio. Felicidade autêntica. Nem uma notícia ruim, nem fui destinatária de um telegrama urgente, graças a Deus. Agora vou dormir com a certeza do dever cumprido. Se fosse compositora de música, o título seria: " Essa é por mim ". Agora vou deitar, pensando no Mandela, no meu interior me vem a letra da música:  "Ah se todos fossem iguais a você". Impossível. Salve Mandela!

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